De: Kathryn Bigelow. Com Rebecca Ferguson, Tracy Letts, Idris Elba, Gabriel Basso e Jared Harris. Suspense / Drama, EUA, 2025, 113 minutos.
"Então gastamos 50 bilhões de dólares para isso?". A frase dita pelo secretário de defesa Reid Baker (Jared Harris), em um dos pontos altos de Casa de Dinamite (A House of Dynamite) talvez passe batida pelo espectador mais desavisado. A ponto de ela retornar no terço final, como uma espécie de lembrete do absurdo da guerra. Será que, nos tempos atuais, naturalizamos esse tipo de aporte financeiro destinado a tanques, mísseis e outros equipamentos que incluem o aparato bélico? Vocês entenderam a dimensão disso? Cinquenta BILHÕES de dólares, na ideia de acertar uma "bala com outra bala"? E que, ainda por cima, falha na hora decisiva. Qual o propósito, afinal, disso? Qual a lógica de simplesmente aguardar o fim do mundo, enquanto um bando de burocratas fardados ou uniformizados decide sobre botões a serem apertados? E que resultarão na morte ou não de milhares de civis?
Desde a ascensão dessa extrema direita tosca - que tem na figura de Donald Trump o seu mais alto representante -, que o medo de uma possível terceira guerra mundial ronda o planeta. Se em tempos de Guerra Fria, o diretor Stanley Kubrick optou pelo deboche como ferramenta, no inesquecível Dr. Fantástico (1964), o tom sério e meio envolto por ideais sobrevivencialistas (com direito a imagens aéreas de um bunker gigantesco), não me parecem gerar o mesmo efeito. Aliás, pior, talvez só resulte em medo. E em pessoas achando que os Estados Unidos devem dobrar a aposta quando o assunto forem os confrontos que quase parecem inevitáveis, entre nações. Se for preciso gastar 50 bilhões de dólares? Que se gaste. Se dez milhões de pessoas vão morrer nos arredores de Chicago? Azar, temos de contra atacar para não sermos taxados de covardes. De fracos. Na eterna disputa por quem tem o maior pênis, em um quadro provável de micropenia coletiva, que só pode ser compensada com bazuconas.
Sim, o que o filme de Bigelow - que ganhou o Oscar por Guerra ao Terror (2009) - tenta imaginar é como os Estados Unidos reagiriam diante de uma ameaça catastrófica: um míssil nuclear lançado de algum lugar do Pacífico, sem origem identificada. E sem autoria clara. E que explodirá nos arredores de Chicago, massacrando parte da população de um dos seus principais estados. Como baratas tontas, generais, secretários de defesa, integrantes do Pentágono e o próprio presidente dos Estados Unidos, encarnado com niilismo por Idris Elba, batem cabeça para tentar decidir os próximos passos. O artefato deve colidir em 19 minutos. Não há tempo para um plano de evacuação. A tentativa de abater uma bala com uma bala falha miseravelmente (com 50 bilhões de esfarelando) e só resta o que muitos ali fazem: chorar, pensar nos seus familiares, se apegar às rotinas pacíficas, distantes desse mundo hostil.
Como eu disse, parece haver aqui e ali uma mensagem legítima antiguerra - e que talvez esteja na simples beleza da vida de cuidar de um filho doente ou de projetar pedir alguém em casamento. Mas que também aparece em discursos tolos e mesmo no comportamento idiotizado de certas figuras que deveriam tomar decisões claras - mas não tomam. Em geral o mundo está a deriva, se ficarmos nas mãos dessas figuras que são hábeis em explodir bombas atômicas, mas que são péssimas em diplomacia. Em relações institucionais. A meu ver um filme como esse pode aumentar o sentimento de paranoia. Por mais que, lá no meio, em uma criação propositadamente teatral da Guerra da Secessão, a oficial de inteligência Ana Park (Greta Lee), lembre que apenas a Batalha de Gettysburg tenha resultado em quase 50 mil mortes.
É um absurdo a guerra, né? Mas quando há tanta gente falando em tela sobre os "inimigos" de sempre - Rússia, China, Coreia do Norte e outras ameaças "comunistas" (como se estivéssemos em uma produção dos anos 80) - e repetindo toda a encenação por outros dois pontos de vista distintos, não sei se a mensagem, se é que há mensagem, cola tão bem. O primeiro terço, o que Rebecca Ferguson como a capitã Olivia Walker aparece, é bem urgente, angustiante, tenso. Depois, tudo meio que se dilui, quando a coisa migra pra outras salas e outras siglas e outras tentativas de decidir algo. Quase caindo no banal. Algo que nem as mensagens espalhadas de "pare o genocídio" em cartazes ao fundo, enquanto crianças circulam pelas ruas tranquilamente, parece amenizar.
Nota: 6,0

Nenhum comentário:
Postar um comentário