De: Edward Berger. Com Colin Farrell, Tilda Swinton, Fala Chen e Alex Jennings. Suspense / Drama, Alemanha / Reino Unido, 2025, 102 minutos.
Preciso admitir pra vocês que se tem uma coisa que me deixa meio desgostoso quando o assunto é o cinema atual, são os excessos estilísticos que só servem para acobertar filme ruim. Para além do fato de que, hoje em dia, tudo parece ter de ser ultraprocessado pra uma melhor "digestão" do público, há também aquele amontoado de clichês que vão do tom sombrio ou misterioso, passando por narrações em off sussurradas (e supostamente inteligentes), que formarão um contraponto para uma coleção de imagens exuberantes e maximalistas, que tendem a buscar certa quebra da lógica. Um bom exemplo de algo nesse perfil é o horroroso Megalópolis (2024) que talvez seja, até com alguma folga, a pior coisa lançada nesse ano. Só que essa fonte de completo vazio, de oco absoluto, parece longe do fim, como comprova o recém chegado Balada de Um Jogador (Ballad of a Small Player), que está disponível na Netflix.
E há que se considerar que a expectativa era alta, já que o diretor Edward Berger vinha de duas elogiadíssimas produções - aliás, duas favoritas aqui da casa -, no caso a releitura de Nada de Novo no Front (2022) e o provocativo e ousado Conclave (2024). Só que aqui, toda o aparato técnico bem executado do primeiro e a sutileza do segundo, dão lugar a uma trama abobalhada sobre um apostador que se vende como a última bolacha do pacote dos cassinos de Macau (com direito até mesmo a luvas especiais, que talvez tenha sido compradas na Shopee), um nome fictício mas nada pomposo e um figurino que parece saído de algum filme B do Brian De Palma. De bon vivant vencedor, que sempre pede a champanhe mais cara, o cara só tem a marra mesmo. Já que tá devendo na praça uma cacetada de grana. Não apenas pro hotel em que está hospedado, mas também pra uma ricaça que ele roubou em um golpe no passado, pra alimentar seu vício.
Ok que, vá lá, o Colin Farrell até se esforça em entregar algum tipo de charme comovente no seu Lord Doyle, que se movimenta de forma furtiva pelos corredores do cassino em que costuma jogar - isso após acordar de alguma noite aleatória de bebedeira. Em uma das primeiras narrações em off ele se vende como uma figura que vive às sombras, enquanto toca uma vida hedonista em terras chinesas. Isso, ao menos até o surgimento da esquisitona Cynthia Blyte (Tilda Swinton, que entra naquele bloco das atrizes de papel único, afinal, quem melhor pra interpretar uma figura excêntrica, né?), que aparece em sua vida como representante de uma firma que cuida do patrimônio de figuras da elite inglesa. Após uma perseguição meio aleatória, Cynthia dá a morta para Doyle: ele tem 24 horas pra saldar uma dívida milionária que ele tem com uma de suas clientes. É isso ou a deportação.
E como desgraça pouca é bobagem, Doyle já tinha sido alertado pelo pessoal do hotel de que sua dívida ali só vinha aumentando. E que ele tinha 72 horas pra pagar uma grana preta para os proprietários, pra não se ver no olho da rua. E é esse o trambiqueiro sem nenhum grande encanto, sem nenhuma grande história pregressa, sem nada que façamos com que tenhamos algum apego, que acompanharemos pelas próximas duas horas, adotando o modo Corra Lola Corra (1999) - mas com magnetismo nulo -, pra tentar obter os pilas. No caminho, ele conhece uma idosa, que responde apenas como Vovó (Deanie Ip) e que parece ter um outro por dentro, já que ela não perde uma rodada sequer de Bacará (um jogo de cartas que nem conhecia). E, enfim, essa senhora parece ser a chave para alguma solução, especialmente após a aparição de uma enigmática crupiê - seu nome é Dao-Ming (Fala Chen). E, bom, a coisa se arrasta com muito corte seco, tomadas aleatórias da metrópole iluminada, closes estranhos e fotografia saturada. Mas, assim, história mesmo, algo com mais substância, é pouco.
Nota: 4,0

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