De: Martín Rejtman. Com Esteban Bigliardi, Manuela Oyarzun e Camila Hirane. Drama / Comédia, Argentina / Chile / Portugal, 2023, 95 minutos.
Era pra ser curioso, engraçado, excêntrico, diferente, mas foi apenas chato mesmo. Ou vai ver fui eu que não consegui embarcar - e, devo admitir que, por vezes, me dá um pouco de ranço esse cinema metido à alternativo que soa apenas presunçoso. O auge do auge nesse 2025 nem era tão indie assim - o horroroso Megalópolis (2025) -, mas tem umas outras joias nessa série B do catálogo da Mubi, que exigem uma boa dose de boa vontade do fã de cinema. E é exatamente esse o caso do recente argentino A Prática (La Práctica), do diretor Martín Rejtman. Espécie de pastiche cômico que tenta soar como um Ari Kaurismäki latino, esse é o tipo de projeto que sai do nada pra lugar algum, enquanto tenta fazer algum tipo de exame aleatório dos sofrimentos, frustrações e dores da classe média, hétero e branca. E que, ao cabo, também luta pra sobreviver.
No centro da narrativa está o professor de ioga Gustavo (Esteban Bigliardi), um sujeito de meia-idade que está se separando da esposa Vanesa (Manuela Oyarzun), que também é instrutora da mesma prática. Enquanto tentam em vão uma terapia de casal tardia para um casamento que não tem mais salvação, Gustavo busca se adaptar à nova vida depois de sair do apartamento da ex, indo morar com o ex-cunhado fumante inveterado, que convive com a esposa meio maluca. Havia uma viagem para a Índia agendada, que o casal desmarca, ao mesmo tempo em que Gustavo vai para uma espécie de retiro espiritual (e, vamos combinar, nada mais burguesia nem tão emergente do que isso). É lá naquele local meio estranho que o protagonista descobrirá uma severa lesão no menisco, que quase lhe impedirá de trabalhar.
E, aqui, a meu ver inicia essa tentativa meio desesperada do diretor em converter qualquer coisa em uma alegoria para as fraturas sociais daqueles que acompanhamos. Uma separação exige que a pessoa se reerga com suas próprias pernas, então que tal colocar uma inflamação no pé como uma metáfora pra isso? Mas há outros momentos meio constrangedores, como no caso do começo da película, instante em que um tremor leve de terra acontece. Uma aluna se lesiona na cabeça e perde a memória - aliás, aluna que parece preocupada com os excessos do instrutor em relação a ela. Assédio? Vai saber. Fica tudo mais ou menos no ar, exatamente como uma pedra flutuante completamente aleatória que aparece como um Deus ex-machina quase ao final, tentando solucionar algo que, ao cabo, é meio que insolúvel. Ver aquelas pessoas apenas aborrece. E nada mais.
Por sinal, o próprio fato de o sujeito ser um instrutor de ioga - um tipo de prática com rígido código de conduta, com exigências físicas e mentais -, aparece como uma desculpa para comentários sociais estúpidos a respeito de culturas regulamentadas. Aliás, é verdade que professores de ioga não comem alho? Ah, Gustavo também é vegetariano. E tem uma mãe controladora. O que talvez ajudasse a compreender alguns comportamentos, se lá pelas tantas a gente não tivesse meio que de saco cheio daquelas pessoas vazias, que lavam roupas como um processo de purificação. E que perambulam pra lá e pra cá sem muita lógica, em atos entorpecidos e vazios, que culminam em diálogos ocos e que parecem retirados da pior peça de teatro juvenil da história. O surgimento de novos personagens, como o jovem Matias (Giordano Rossi), que é acusado de furto por Gustavo, ou mesmo a ex-aluna e enfermeira Laura (Camila Hirane) acrescentam ZERO em termos de interesse. Em uma experiência que termina oca como a vida simplória e ordinária de todos ali.
Nota: 2,5
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