terça-feira, 7 de junho de 2022

Tesouros Cinéfilos - Orgulho e Esperança (Pride)

De: Matthew Warchus. Com Ben Schnetzer, Imelda Staunton, Bill Nighy e Dominic West. Comédia / Drama, França / Reino Unido, 2014, 119 minutos.

Vamos combinar, que filme bem agradável de se assistir esse Orgulho e Esperança (Pride) - um daqueles achados que estão meio perdidos lá na Mubi e que merecem ser descobertos. Trata-se de um feel good movie que mistura temáticas políticas e sociais com uma abordagem sobre respeito às diferenças, o que resulta em um inesperado acerto. Aliás, talvez se fosse uma obra que pesasse um pouco mais a mãe e ela não caísse tanto nas graças do público. Na trama retornamos para o Reino Unido nos anos 80, período de grande turbulência, onde os efeitos devastadores da política antiestatizante e de austeridade da primeira ministra Margaret Thatcher resultariam na maior greve de mineiros da Inglaterra - dois terços dos trabalhadores paralisaram as operações em protesto contra o governo. Os prejuízos foram enormes, com demissões em massa, privatizações, perdas de direitos e o desmantelamento de comunidades inteiras de operários.

A despeito desse recorte mais pesado da história do País europeu, na obra do diretor Matthew Warchus temos um extrato mais episódico do todo e que envolve um grupo de ativistas gays e lésbicas que resolvem aproveitar o Dia do Orgulho LGBT de Londres para se associar, de forma quase involuntária, à pauta dos grevistas, arrecadando fundos para as famílias de mineiros. A intenção nobríssima, visa chamar a atenção para a causa dos trabalhadores, enquanto também levantam as suas bandeiras na luta por direitos iguais à de qualquer outro cidadão. Só que aí reside um probleminha: quando a pauta começa a ganhar certa força e os primeiros valores começam a ser repassados a União Nacional dos Trabalhadores de Minas (NUM) será necessário lidar com o preconceito que envolve o outro lado, que parece meio desconfortável com a situação. Especialmente quando os ativistas LGBT resolvem ir até uma pequena comunidade no País de Gales na intenção de efetuar as doações pessoalmente.



E é óbvio que será justamente desse choque cultural meio inesperado, que resultará uma grande fábula sobre amizade, aceitação e empatia. Se de um lado os habitantes de uma localidade mais fechada, conservadora, com sua rotina pautada pelo trabalho e pela religião, não parecem muito abertos a receber um coletivo tão mais purpurinado, colorido, leve e extrovertido, não demorará para que ambos os grupos percebam que precisam mais uns dos outros do que imaginam e que, ao cabo, há uma causa maior pela qual todos brigam. Trabalhadores e homossexuais (e os dois juntos, claro) são, nesse caso, desprezados por um governo que ignora suas reinvindicações. E sem a junção de forças será quase impossível o enfrentamento de questões que podem ter impactos em ambos os lados. Nesse sentido, a caminhada de entendimento de todos, meio aos trancos e barrancos, será não menos do que irresistível, com sequências capazes de nos divertir e nos emocionar em igual medida.

Sim, em alguns momentos pode até parecer meio bobinho e "fácil" demais - há menos espaço pra disputas com as forças policiais do governo e mais para o cinismo de parte a parte, em meio as tentativas persistentes de gays e lésbicas de firmarem a sua agenda junto aos mineiros. Só que o lado bom disso é o de que conseguimos sorrir, sem perder de vista a urgência da importância do tipo de discussão a que obra se propõe. O que envolve deixar as diferenças de lado na hora de debater o que realmente importa. Com um grupo de atores maravilhosos e carismáticos - de Bill Nighy, passando por Imelda Staunton e Dominic West, até chegar a Andrew Scott e George MacKay -, o filme é uma daquelas experiências afetuosas sobre solidariedade e superação de dificuldades. Algo que, em tempos tão brutos, de preconceitos diversos, de ódio e de intolerância como os que vivemos, não deixa de ser um belo respiro. Vai na fé. Será impossível não sorrir ao final.


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