Basta uma passada de olhos não apenas na imagem de capa, mas também no título do novo disco da rapper Negra Li, para que saibamos: esse é mais um registro que busca dar voz a quem, muitas vezes, é silenciado. Aliás, esse costuma ser também parte do papel de artistas do gênero: o de ecoar vozes vulneráveis, marginalizadas, especialmente nesse caso o de mulheres pretas, pobres, de periferia. Em entrevistas, a própria paulistana afirmou que precisou se reinventar - o que explicaria certa demora para que O Silêncio Que Grita encontrasse a luz, chegando sete anos após o ótimo Raízes, o nosso 17º colocado na relação de melhores de 2018. "Nesse movimento de buscar a minha essência, quis me aproximar ainda mais da minha identidade preta", revelou em entrevista à Veja São Paulo, a respeito dessa reconexão com aquilo que, de fato, era importante.
O resultado é um conjunto de músicas de temas diversos e cheios de potência sobre racismo e violência policial (Olha o Menino 2.0); hipocrisia e vidas de faz de conta (Fake); estupro, aborto e outros tipos de agressões sexuais (Uma Menina) e trabalho e direito ao lazer (Sambando). Claro que, para além das complexidades que envolvem os inescapáveis assuntos políticos e sociais, o álbum também abre espaço para a celebração, como no caso de Abençoada, um afrobeat saboroso a respeito do poder da fé e da superação ou mesmo Amor Preto, essa com a participação da Liniker, e que também é embalada por ritmos africanos. Aliás, curioso notar como a segunda metade do registro é justamente aquela de tintas mais festivas, como no caso, por exemplo, de África, um reggae ondulante, de refrão pegajoso e cheio de referências culturais e de orgulho racial, que fecha com perfeição um dos grandes discos nacionais lançados nesse ano.
Nota: 9,0
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