quarta-feira, 30 de julho de 2025

Pitaquinho Musical - Negra Li (O Silêncio Que Grita)

Basta uma passada de olhos não apenas na imagem de capa, mas também no título do novo disco da rapper Negra Li, para que saibamos: esse é mais um registro que busca dar voz a quem, muitas vezes, é silenciado. Aliás, esse costuma ser também parte do papel de artistas do gênero: o de ecoar vozes vulneráveis, marginalizadas, especialmente nesse caso o de mulheres pretas, pobres, de periferia. Em entrevistas, a própria paulistana afirmou que precisou se reinventar - o que explicaria certa demora para que O Silêncio Que Grita encontrasse a luz, chegando sete anos após o ótimo Raízes, o nosso 17º colocado na relação de melhores de 2018. "Nesse movimento de buscar a minha essência, quis me aproximar ainda mais da minha identidade preta", revelou em entrevista à Veja São Paulo, a respeito dessa reconexão com aquilo que, de fato, era importante.

 


O resultado é um conjunto de músicas de temas diversos e cheios de potência sobre racismo e violência policial (Olha o Menino 2.0); hipocrisia e vidas de faz de conta (Fake); estupro, aborto e outros tipos de agressões sexuais (Uma Menina) e trabalho e direito ao lazer (Sambando). Claro que, para além das complexidades que envolvem os inescapáveis assuntos políticos e sociais, o álbum também abre espaço para a celebração, como no caso de Abençoada, um afrobeat saboroso a respeito do poder da fé e da superação ou mesmo Amor Preto, essa com a participação da Liniker, e que também é embalada por ritmos africanos. Aliás, curioso notar como a segunda metade do registro é justamente aquela de tintas mais festivas, como no caso, por exemplo, de África, um reggae ondulante, de refrão pegajoso e cheio de referências culturais e de orgulho racial, que fecha com perfeição um dos grandes discos nacionais lançados nesse ano.

Nota: 9,0 

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