De: Milos Forman. Com Jim Carrey, Danny DeVito, Paul Giamatti e Courtney Love. Comédia / Drama, EUA / Reino Unido / Japão / Alemanha, 1999, 118 minutos.
Hey Andy, did you hear about this one?
Tell me, are you locked in the punch?
Hey Andy, are you goofing on Elvis?
Hey, baby! Are we losing touch?
If you believed they put a man on the moon
Man on the moon
If you believe there's nothing up my sleeve
Then nothing is cool
(Man on the Moon - REM)
"O que é real? O que não é? É isso o que eu faço no meu ato, testar como as outras pessoas lidam com a realidade". Em uma das primeiras sequências de O Mundo de Andy (Man on the Moon), Andy Kaufman (Jim Carrey) se apresenta em um desses clubes de comédia de stand up. Diante de uma plateia desconfiada, encarna um de seus personagens - o Homem Estrangeiro -, que tenta em vão fazer o público rir. Quando ele avisa ser hábil em imitar celebridades, sua inépcia parece ainda mais evidente - ainda assim parece haver algum magnetismo naquele sujeito, com seu sotaque meio carregado, voz tímida, movimentos corporais excêntricos. Não demorará para que o público venha abaixo diante de uma imitação fenomenal de Elvis Presley - que é finalizada com um inesperado thank you, na voz tímida e quase afeminada do Homem Estrangeiro. Todo esse conjunto chama a atenção do famoso produtor George Shapiro (Danny DeVito) que, bom, converteria Kaufman em uma das grandes estrelas de sua geração.
Parte dessa história de ascensão meteórica é vista no filme de Milos Forman, que completa 25 anos de lançamento em 2024. A real é que Kaufman não era assim tão conhecido no Brasil - temos de pensar nos anos 70/80 como um período em que mal e mal a TV a cores chegava por aqui - e, em alguma medida, a produção de 1999 ajudou a jogar alguma luz a essa figura excêntrica e carismática, que encarnava seus personagens em tempo integral - a ponto de não sair deles nos bastidores, fora do palco, o que burlava os limites desse tipo de arte. Na primeira cena com Shapiro, por sinal, Kaufman só sai da pele do Homem Estrangeiro quando percebe estar de fato diante do produtor. Shapiro, aos trancos e barrancos, o colocaria na televisão - fosse em episódios do Saturday Night Live ou mesmo na pele de Latka na sitcom de humor Taxi, que foi exibida pela ABC entre os anos de 78 e 82 (e que era estrelada também por Christopher Lloyd e Judd Hirsch, além do próprio DeVito). Só que, por incrível que pareça, o protagonista abominava esse tipo de comédia. O que o faria colocar uma série de condições para estar nesses projetos.
O caso é que toda a excentricidade do sujeito, seu estilo pouco convencional, seu comportamento imprevisível ganhariam força com o trabalho de Carrey - que, como mostra o documentário Jim & Andy (2017) não apenas desejava muito o papel, como tornaria os bastidores da produção caóticos bem ao estilo de Kaufman. O que envolveria a replicação dos métodos do astro, com direito à permanência em seus personagens fora do palco e provocações a colegas de produção com maneirismos e outros exageros (ele era uma grande inspiração para Carrey). Levado às telonas, esse combo transforma a obra de Forman, um diretor respeitado de clássicos como Um Estranho No Ninho (1975) e Amadeus (1984) em uma produção envolvente e intensa, que leva o espectador do riso às lágrimas, especialmente pelo caráter trágico da sua vida como um todo - da dificuldade de aceitação de seu pai, à morte precoce por um câncer. Tudo acompanhado de perto pelo melhor amigo e parceiro de negócios Bob Zmuda (Paul Giamatti, sempre um coadjuvante de luxo) e pela namorada Lynne Margulies (Courtney Love).
Aliás, muitos dos melhores embates envolvem as peripécias de Kaufman e Zmuda, que são confrontadas por Shapiro, que faz de tudo para colocar panos quentes - também para não perder as rédeas, dado o potencial do astro em entreter. "Quem você está querendo divertir? Você mesmo ou o público?", pergunta um exasperado Shapiro na primeira cena em que aparece um certo Tony Clifton, um exótico cantor de salão, dotado de um senso de humor ácido e nada amistoso - alguém, aliás, intencionalmente sem graça e que mais uma vez ultrapassa qualquer limite que possa haver no humor. E, claro, ainda há as abomináveis sessões de luta livre contra as mulheres, com Kaufman se autointitulando "campeão intergênero" - e por mais misógina que essa provocação pareça, ela parece ter como fundo a ideia de debochar do comportamento patético dos lutadores, especialmente os do Sul dos Estados Unidos, com suas batalhas fraudulentas e pendor pra certo amadorismo, que é endeusado pelos rednecks. "São piadas que só tem graça para vocês", desespera-se Shapiro, que ouve como resposta um "eu sempre tenho de estar à frente do público". Em alguma medida é possível afirmar que ele alcançou esse objetivo, com seu senso de humor sem limites e cáustico que, mais adiante, influenciaria uma infinidade de outros nomes, casos de Sacha Baron Cohen e Ricky Gervais.
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