quinta-feira, 1 de junho de 2023

Pitaquinho Musical - Arlo Parks (My Soft Machine)

A maciez e a sofisticação dos arranjos. Um jeito de cantar sussurrante, que aconchega. As letras repletas de citações culturais e de histórias cotidianas - de amor, de amizades, de relações familiares - tornam Arlo Parks uma das artistas mais interessantes da atualidade. Não por acaso seu primeiro disco, Collapsed in Sunbeans foi o segundo colocado na nossa lista de melhores internacionais de 2021. E ainda que My Soft Machine, a aguardada sequência, não tenha o brilho do trabalho inaugural, não dá pra negar que se trata de uma nova coleção de canções acima da média. Apostando novamente na mistura de R&B, jazz, pop e eletrônica, a artista britânica utiliza sua poética simples e criativa como veículo para íntimas composições, que parecem se revelar aos poucos, sem pressa. O resultado é um trabalho cativante, que se alterna entre sintetizadores primaveris e guitarras eficientes.


Um bom exemplo dessa mescla pode ser percebida na saborosa Weightless, uma canção ao mesmo tempo açucarada e dolorosa sobre a experiência de amar alguém, mas receber de volta apenas migalhas de afeto (Você está tão fechado, eu estou esgotada / Mas eu brilho no caso raro / De você me dizer que eu sou seu raio de sol / Eu estou faminta por sua afeição). Ao cabo, é o tipo de música que nos faz abrir um sorriso, mesmo com o coração devastado - tudo isso pela beleza ecumênica dos versos, que se junta a uma melodia estranhamente dançante. Há outros instantes luminosos, como no caso de Pegasus, feita em parceria com a sempre ótima Phoebe Bridgers. Indo pro lado contrário, a música fala sobre a pureza e a raridade de um amor verdadeiro. "Aquele sentimento de solidez de encontrar um verdadeiro lar em outro ser humano", resumiria a britânica nas entrevistas de divulgação. É difícil ficar alheio.

Nota: 8,5


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