quinta-feira, 22 de junho de 2023

Picanha em Série - Black Mirror (6ª Temporada)

Vamos combinar que talvez desde a terceira temporada a série Black Mirror já não nos comove tanto. Provavelmente a realidade anda tão dura, tão no limite do absurdo - em meio a guerras, pandemia e ascensão de grupos extremistas de direita -, que uma antologia que debate os limites do uso da tecnologia e na discussão de questões éticas, políticas e sociais da contemporaneidade, talvez não seja mais nenhuma novidade. Em meio a inovações como o Chat GPT, assistentes virtuais com recomendações personalizadas, deepfake, realidade aumentada e até mesmo stalkerwares (que permitem monitorar pessoas a distância), a impressão que temos nesta sexta temporada da série idealizada por Charlie Brooker foi a de que alguns episódios foram "menos Black Mirror que o padrão Black Mirror". É divertido de assistir? É. Dá pra passar sem ver? Talvez. Nós do Picanha assistimos aos cinco episódios e aqui damos o nosso veredicto.

Joan is Awful: esse aqui tem uma premissa sensacional que, infelizmente, na reta final soa meio apressado e até mesmo, vá lá, excessivamente debochado (ok, fazer graça pode ser uma boa, mas eu senti falta de uma imersão maior que nos conduzisse para além do rasinho em relação as consequências do que assistimos). Na trama Joan é uma CEO de uma empresa de tecnologia que é surpreendida quando percebe que os eventos de sua vida estão, literalmente, sendo recontados em uma série de uma plataforma de streaming (um certo Streamberry, que parece tanto a própria Netflix, que tem até o tradicional "tudum"). Ao contatar sua advogada, Joan descobre que essa bizarra experiência está acontecendo com ela, pelo simples fato de ela ter assinado os termos de uso da plataforma sem ter lido. Assim, uma espécie de computador quântico recria a sua história praticamente em tempo real, a partir dos dados fornecidos por ela nos seus dispositivos. É um episódio com o DNA Black Mirror, estrelado por Salma Hayek e Annie Murphy, que se estivesse na primeira temporada da antologia, talvez fosse ainda melhor. Nota: 8,0



Loch Henry: esse aqui tem um climinha de suspense adolescente genérico que não chega a empolgar tanto assim. É ok, só não inesquecível. Na história acompanhamos um casal de estudantes de Cinema, seus nomes são Davis e Pia, que, em visita a familiares em uma isolada cidade rural da Inglaterra tomam conhecimento da existência, no passado, de um certo Iain Adair - um notório serial killer que era famoso por torturar turistas. Como eles são acadêmicos da área, Pia sugere que seria legal fazer, quem sabe, um documentário, sobre esse episódio macabro. Em meio ao trabalho, a dupla descobre uma série de fitas VHS que contém segredos escabrosos que mudarão completamente o rumo da história que estão contando. Há uma surpresinha no final que subverte a ideia simples de suspense rural de horror com começo, meio e fim. Mas tudo fica meio que no quase. Nota: 6,5



Beyond the Sea: disparado o melhor episódio da temporada e, talvez se tivesse um pouco mais de metragem, poderia ser um filme isolado, descolado da antologia, talvez até com direito a elogios da crítica. Também é o mais Black Mirror de todos os episódios, ao misturar uma narrativa de viagens espaciais e réplicas robóticas de seres humanos na Terra. Na trama, os astronautas Cliff e David (Aaron Paul e Josh Hartnett) estão em uma missão espacial de seis anos, deixando nas suas casas cópias mecânicas de seus corpos, que lhes permite interagir, minimamente, com suas esposas e filhos. Só que a coisa desanda quando David fica preso na nave após a sua versão robô e a sua família serem assassinados por extremistas ligados a algum tipo de culto religioso. Incapaz de ver seu parceiro em estado catatônico dentro da nave, Cliff oferece a ele a oportunidade de ir a Terra utilizando o seu corpo - uma experiência que poderia ser terapêutica, já que David poderia "respirar" outros ares, pintar e... interagir com a esposa de Cliff. Claro que a coisa vai desandar e será impossível ficar alheio a um desfecho tão brutalmente impactante. Nota: 9,0



Mazey Day: o episódio mais curtinho da temporada mistura história de horror com tintas de realismo mágico, em meio a crítica ao universo sempre caótico de culto as celebridades e de clickbaits em páginas sensacionalistas. É uma trama meio convencional onde acompanhamos uma paparazzi que vê sua vida virar do avesso quando um famoso se suicida após ter fotos que revelavam um caso extraconjugal, vazadas. Disposta a abandonar a carreira, a fotógrafa Bo se vê atraída por um novo trabalho, que envolve a busca por um click que seja de uma certa Mazey Day, uma atriz que desapareceu após um atropelamento ocorrido na República Tcheca. Os limites éticos da profissão serão testados quando Bo decide ir até a clínica de reabilitação em que Mazey está internada. E será lá que ela será surpreendida por um acontecimento bizarro que alterará a vida de muitos. Nota: 6,5



Demon 79: sinceramente esse aqui eu penei pra concluir porque ôôô troço bem chato. Além de longo, o episódio não tem absolutamente nada de Black Mirror sendo apenas uma história de tintas políticas - essa parte é ok, gostei -, que envereda para o terror setentista. Na trama uma vendedora de loja que sofre com casos explícitos de racismo, encontra uma espécie de talismã do subsolo do departamento que trabalho. Após esfregar o amuleto, ele libera um demônio de nome Gaap, que surge vestido como Boney M. O sujeito diz a ela que será preciso assassinar três pessoas no intervalo de três dias para evitar que a Terra sofra uma espécie de apocalipse nuclear. A ideia é boa, mas por fim acaba sendo mal executada. Especialmente por apostar em um senso e humor meio excêntrico, que reduz o impacto dos temas que o episódio pretende discutir. Nota: 5,0




Média geral: 7,0

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