sexta-feira, 16 de junho de 2023

Tesouros Cinéfilos - Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels)

De: Guy Ritchie. Com Nick Moran, Jason Statham, Dexter Fletcher, Vinnie Jones, Sying e Jason Flemyng. Ação / Comédia, Reino Unido, 1998, 106 minutos.

Ok, a gente pode até concordar que, hoje em dia, o estilo um tanto frenético, com boas doses de humor cínico e de violência estilizada do Guy Ritchie pode ter dado uma saturada - como comprovam os repetitivos (e até confusos) Revolver (2005) e RocknRolla: A Grande Roubada (2007). Mas vamos combinar que os trabalhos de começo de carreira seguem sendo os mais divertidos, com suas tramas rocambolescas, personagens aleatórios e coincidências sem limite. Primeiro filme da carreira do diretor, Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Lock, Stock and Two Smoking Barrels) é um desses exemplares, com sua coleção de criminosos desajustados que tentarão a todo o custo passar a perna uns nos outros. Com uma grande chance de, ao cabo, todo mundo se dar mal no final. Sim, Ritchie vai no limite do absurdo esticando a corda estendida por outros de sua estirpe como os Irmãos Coen e, claro, Quentin Tarantino. A gente vai rir. Ainda que o sangue jorre na nossa cara!

Na trama, um habilidoso jogador de cartas - seu nome é Eddy (Nick Moran) - convence seus três amigos Soap (Dexter Fletcher), Bacon (Jason Statham) e Tom (Jason Flemyng), todos habituados a uma existência de golpes no "baixo clero" da criminalidade, a tentar enganar o perigoso mafioso Harry Lonsdale (P. H. Moriarty) em um jogo de cartas. Eddy se considera um gênio da coisa toda, mas não percebe que quem tá sendo enganado é ele: resumo da ópera, após uma arriscada aposta no pôquer, ele e sua turma acabam com uma dívida de 500 mil libras. Que deverá ser paga em uma semana, sob pena de todos os pescoços em questão serem devidamente cortados - como comunica o ameaçador Big Chris (Vinnie Jones). E como se já não estivessem devidamente ferrados - pra não usar outra palavra -, Harry ainda ameaça tomar o bar do pai de Eddy.

Só que nesse ínterim, o destino parece sorrir para esse quarteto meio desmiolado quando, sem querer querendo, eles escutam uma conversa que ecoa do apartamento vizinho: um certo Dog (Frank Harper) planeja um assalto a um grupo de produtores de maconha da vizinhança que parecem ter uma carga gigante de dinheiro e de drogas - ainda que mantenham as aparências de uma existência paz e amor meio riponga (e a cena em que os traficantes debatem longamente sobre o uso das grades na porta de entrada da casa, dá uma noção de suas preocupações). A ideia de Eddy e companhia é a de roubar Dog - que é seu vizinho, lembremos - quando eles voltarem do golpe contra os maconheiros. O roubo do roubo servirá então para saldar a dívida com o temido Harry. O que lhes livrará a cara. Claro que a gente sabe que as coisas não serão tão simples e, obviamente, há uma chance de tudo sair do controle. Até mesmo porque há outros interessados na jogada - como é o caso de um outro chefão, o traficante barra pesada Rory Breaker (Vas Blackwood).

Sim, são muitos personagens e uma costura de roteiro que, por mais que siga uma lógica bem estabelecida, exige certo grau de atenção do espectador para que nenhum detalhe se perca. E tudo se encaixe. Porque se já não bastassem as maracutaias que envolvem o fio condutor, ainda há uma série de subtramas importantes na narrativa - como aquela que envolve a compra de duas armas valiosíssimas (itens de colecionador) e o "sequestro" de um guarda de trânsito que estava no lugar errado e na hora errada (isso só pra ficar em duas). Estiloso do ponto de vista técnico - com sua fotografia amarelecida,  cortes de câmera rápidos, ângulos oblíquos e figurinos setentistas -, o filme ainda conta com excelente trilha sonora, de nomes como James Brown, Dusty Springfield, Robbie Williams e Stooges. Premiado em diversos festivais, o filme passaria batido pelo Oscar daquele ano. Mas nada que impeça o culto sobre a obra, que é adorada por um sem fim de fãs.


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