segunda-feira, 9 de maio de 2016

Cinema - Truman (Truman)

De: Cesc Gay. Com Ricardo Darín, Javier Cámara, Dolores Fonzi e Eduard Fernández. Comédia dramática, Espanha / Argentina, 2015, 108 minutos.

Truman é daqueles filmes em que, recomenda-se, seja assistido com a caixinha de lenços de papel a tiracolo - especialmente se você for aquele tipo de sujeito que vai as lágrimas até mesmo com o episódio da venda do churros, no seriado Chaves. É uma obra que, entre outros temas, aborda o poder da amizade, a capacidade de exercer a empatia e a importância das sábias decisões, ainda que em momentos difíceis. Parece coisa de autoajuda e, em partes, talvez até seja. Mas é um drama ao mesmo tempo simpático e comovente, singelo e elegante. E ainda tem Ricardo Darín e Javier Cámara como protagonistas, interpretando sujeitos que são melhores amigos. Cámara é Tomás, que vive no Canadá e resolve viajar até Madri para encontrar Julián (Darín), ator argentino radicado na Espanha que foi diagnosticado com um câncer terminal.

Além de tentar convencer Julián a persistir no tratamento, que lhe dará talvez alguns meses a mais de vida, Tomás também ajudará o amigo a tentar encontrar um novo lar para o seu cachorro, o Truman do título. E é só. A trama, em si, é isso. Poderia parecer o negócio mais banal do mundo - e certamente seria - não fosse o talento do grupo de atores que se vê em tela, com destaque para a dupla de protagonistas. E isso pode ser comprovado quando, com apenas cinco minutos de projeção, percebemos já estar torcendo para que ambos, cada um a sua maneira, tenham o melhor desfecho possível. E, a meu ver, "torcer" pelos personagens que assistimos, qualquer que seja o tipo e o estilo de película apreciada, consiste em condição fundamental da qualidade daquilo que assistimos. Se nos preocupamos com os personagens, significa que nos importamos o suficiente com eles, afinal.


Cesc Gay - responsável também pelo simpático O Que Os Homens Falam (2012) - recheia o filme com imagens dos dois amigos circulando em meio a consultórios médicos e hospitais, mas também por bares, ruas e casas de Madri, onde se empenham em tentar encontrar um lar digno para Truman. Ao invés de tentar emocionar o espectador mostrando imagens da dor que certamente vive Julián em seus últimos dias - ou mesmo os efeitos colaterais acarretados pela doença em si - o diretor comove por meio de sequências orgânicas e absolutamente naturalistas da relação entre os dois amigos. Nesse sentido, é praticamente impossível não ficar com os olhos marejados quando ambos, após uma leve briga, mencionam a principal virtude que pode ser encontrada no melhor amigo. "Tudo o que você fez por mim foi sem jamais esperar algo de volta", ressalta Julián. Que ouve de Tomás algo sobre a sua insuspeitável valentia.

Da mesma forma, não deixa de ser tocante a busca de ambos por aquela que será a nova morada do amigo canino, após a morte do dono. Ou mesmo os momentos envolvendo o rápido encontro com o filho Nico (Oriol Pla), em Amsterdam, ocasião em que gestos e olhares falam muito mais do que palavras. "Que mania tem os outros de fazer as pessoas sofrerem", argumenta Julián com o melhor amigo, após se negar a revelar ao jovem o fato de que está próximo da morte. Ainda que o tema seja pesado, a obra não deixa de ter momentos mais leves e divertidos - especialmente no diálogo dos protagonistas - e que servem como um excelente contraponto para o drama que se apresenta. E isso feito da forma mais natural possível, sem qualquer tipo de forçação de barra. Com fotografia eficiente e trilha sonora adequada ao que se vê, Truman se apresenta como uma excelente alternativa para aqueles que procuram histórias que sejam envolventes, ainda que simples.

Nota: 8,3


Um comentário:

  1. Aguardo ansiosamente. Excelente resenha. E não é que o episódio da venda dos churros dos Chaves existe mesmo!

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