segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Cine Baú: Janela Indiscreta

De: Alfred Hitchcock. Com James Stewart, Grace Kelly e Thelma Ritter. Suspense, 1954, 112 minutos.

Escolher um filme do diretor Alfred Hitchcock para figurar no quadro Cine Baú talvez seja tão complicado quanto selecionar apenas um prato em um restaurante de comida italiana - na falta de metáfora melhor. É tarefa dificílima dada a vasta e qualificada filmografia daquele que recebe a alcunha de "mestre do suspense". Psicose, Um Corpo que Cai, Intriga Internacional, Pacto Sinistro.. são tantas obras memoráveis que há uma forte tendência de o inglês aparecer muitas outras vezes aqui no Picanha.

Mas pra começar, falemos de Janela Indiscreta (Rear Window), de 1954, que, particularmente, não é apenas o meu filme favorito do Hitchcock. É meu preferido de todos os tempos!


A trama gira em torno de um repórter fotográfico (Stewart), que, após sofrer um acidente e ter sua perna imobilizada, passa os dias a observar, da janela de seu prédio, a movimentação da vizinhança. Hitchcock nos presenteia uma seleção dos moradores mais excêntricos, estando entre eles uma jovem e fogosa bailarina, um pianista autodidata, uma solteirona, um casal em lua-de-mel, entre outros tipos curiosos. As interações entre eles e entre outras pessoas que, eventualmente, aparecem no pátio do que parece ser um condomínio, é o fruto da curiosidade do fotógrafo que, enfadado, tem o voyeurismo como sua principal atividade diária.
Só que aquilo que, inicialmente, não passa de uma ação prosaica, vira fruto de uma verdadeira obsessão, quando Stewart tem a impressão de ter presenciado um assassinato em um dos apartamentos do prédio em frente. Se já não bastasse a história magistral - capaz de equilibrar suspense de arrepiar com momentos genuínos de humor - o diretor ainda nos apresenta a um elenco de apoio inspiradíssimo. Grace Kelly, exuberante como sempre, vive a namorada, uma patricinha mimada que tem dificuldade em fazer com que o fotógrafo se apaixone por ela, dadas as diferenças de personalidade entre ambos. Mas quem rouba a cena é a enfermeira vivida pela sempre competente Thelma Ritter que, espirituosa, entrega alguns dos melhores diálogos dessa obra-prima.
Em uma época em que nunca esteve tão na moda espiar, fotografar, mostrar - o BBB e o Facebook, com os seus infinitos autorretratos, estão aí para não me deixar mentir -, a curiosidade pelo outro mantém essa obra atemporal, mesmo tendo sido lançada há exatos 60 anos. E, nunca é demais lembrar: foi com Janela Indiscreta que Hitchcock pavimentou o caminho para três das principais obras de sua filmografia: Um Corpo que Cai (1958), Intriga Internacional (1959) e Psicose (1960). Fundamental.


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