De: Richard Linklater. Com: Ellar Coltrane, Patricia Arquete e Ethan Hawke. Drama, EUA, 166 minutos, 2014.
Desde o surgimento do cinema - com os Irmãos Lumiére, em 1895 - foram várias as vezes em que paradigmas foram quebrados. Com o curta-metragem Viagem A Lua (1902), foi realizado o primeiro filme com começo, meio e fim. Em 1906, o raro filme australiano The Story of Kelly Gang, é tido como o primeiro longa-metragem, com os seus imponentes 70 minutos. Após alguns anos de cinema mudo, o mundo foi assombrado em 1927 com a tecnologia do som, presente pela primeira vez em O Cantor de Jazz (1927). Vieram, após, as primeiras obras em cores, em 3D, em computação gráfica e muitas outras rupturas que ocorreram e ainda vão ocorrer.
Ocorre que talvez o diretor Richard Linklater tenha sido um dos responsáveis por mais uma dessas quebras com o seu épico Boyhood: Da Infância à Juventude, que estreou no cinema há algumas semanas. A história, por assim dizer, não tem nada de mais: conta a vida de um jovem, Mason (Coltrane), dos seis aos 18 anos. O grande diferencial: o jovem ator, ao surgir ainda pequeno, imaturo e inocente, na infância, será o mesmo ao final da película, sem maquiagens, quando tem de tomar decisões como ir para a faculdade, onde morar, deixar a casa dos pais, com quem namorar ou conviver, enfim, como ocorre na vida de qualquer adolescente.
O naturalismo impressiona, uma vez que, além de Coltrane, todo o elenco envelhece junto ao lado do menino - com destaque para um divertidíssimo pai vivido por Ethan Hawke e para a responsável mãe, encarnada de forma admirável por Patrícia Arquette. Para gravar o filme, que iniciou em 2002, Linklater juntava todo o elenco uma vez por ano, para pequenos recortes de gravações que não chegavam a durar uma semana. O resultado é uma obra que impressiona pela simplicidade dos eventos e pela concepção de uma ideia nada comum e que teria muita chance de dar errado - e se algum dos atores desistisse? Ou, pior, morresse?
Deu tão certo, que Boyhood, é um dos favoritos para a principal estatueta na noite do Oscar - o próprio Linklater já andou arrebanhando prêmios, como o Urso de Prata de Melhor Diretor, no Festival de Berlim. Mas se você espera ver grandes eventos em um filme de quase três horas, recomendamos que guarde seu dinheiro para outra empreitada. A película é feita de pequenos momentos, valorizando os personagens que, multifacetados, são capazes de mudar de comportamento, conforme os anos passam, a maturidade chega e a vida se modifica. E, tudo embalado por uma trilha sonora impecável, com nomes como Wilco, Arcade Fire, Vampire Weekend e Coldplay. De ver e rever.
O leitor Bruno Zanatta Salvatori já nos havia alertado sobre as qualidades da obra. Algo que confirmamos após assisti-lo!
Nota: 9,7
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