De: Sean Wang. Com Izaac Wang, Mahaela Park, Joan Chen e Raul Dial. Comédia / Drama, EUA, 2024, 94 minutos.
[ATENÇÃO: TEXTO COM SPOILERS DE LEVE]
Vamos combinar que essa subcategoria dos filmes sobre amadurecimento (os chamados coming of age) - que geralmente nos apresentam a jovens adolescentes atrapalhados, que não sabem muito bem como agir nesse mundo que os cobra decisões um tanto adultas, de quem ainda é meio que uma criança -, é um tanto semelhante a das comédias românticas. A gente já sabe mais ou menos o que vai acontecer com os protagonistas. Vão sofrer, chorar, querer desaparecer do planeta instantaneamente quando tudo começar a dar errado. Mas ao final vão aprender que a vida é assim mesmo, que a gente tem altos e baixos, que passamos umas vergonhas danadas, e que, por incrível que pareça, tudo vai continuar normalmente. Em alguns casos, esse tipo de obra é capaz de retratar esses jovens com uma franqueza acachapante - e é justamente esse o caso do ótimo Caçula (Didi), longa de estreia do diretor Sean Wang (que obteve certa fama recente com o curta em documentário Nai Nai e Wài Pó, que foi indicado ao Oscar).
Até mesmo pela idade do realizador - que mal completou 30 anos -, essa parece ser uma experiência bastante autobiográfica, que nos apresenta ao adolescente Chris (Izaac Wang), um menino de 13 anos um tiquinho rebelde e um tanto introspectivo que, como qualquer outro ser dessa idade, passa boa parte das horas em frente ao computador, sonhando com o dia em que dará o primeiro beijo na gatinha da escola. Sim, pode parecer meio bobinho num primeiro momento, mas é interessante notar como Wang recria o verão de 2008 - que é o período em que se passa a história - de uma forma bastante realista e evitando os clichês mais batidos do gênero. Chris é conhecido pelos seus amigos mais próximos - um deles, o carismático Fahad (Raul Dial) -, como Wang Wang, o que, mais adiante lhe exasperará, já que parece haver uma vergonha meio subjacente (ou receio de sofrer preconceito) pelo fato de ser um imigrante nos EUA.
Em seu quarto, aquele caos visual natural da época, com pôsteres do Paramore e do Panic! At the Disco - aliás, a banda de Hayley Williams será a desculpa perfeita para tentar uma aproximação de Madi (Mahaela Park), a menina pela qual ele está caidinho desde que a viu pela primeira vez (quem nunca teve um amor a primeira vista no colégio que atire a primeira pedra), e que deixou escapar no My Space dela que o Riot! é o disco da vez. Enquanto elabora alguma estratégia meio improvisada e evidentemente cringe - dos treze aos dezesseis somos meio especialistas nisso -, que envolve um toque de celular com alguma música do grupo como forma de tentar emplacar uma linha de diálogo, o protagonista grava filmes de qualidade paupérrima para um Youtube ainda embrionário. No Facebook também em estágio inicial, Chris nota que Um Amor Para Recordar é o filme da vida de Madi e tudo pode ser uma desculpa para conversar infinitamente no chat da AOL, naquelas tardes meio calorentas.
E ao mesmo tempo em que tudo parece um tanto simples e com aquele ar de "já vi isso antes", os acontecimentos se atropelam de forma vigorosa, indo no limite entre o desconforto, a ternura e o frenesi. Insatisfeito com os rumos que as coisas tomam - especialmente depois de uma frustrada tentativa de date com Madi -, Chris descontará sua raiva na amorosa mãe Chungsing (Joan Chen), que mantém o sonho de ser pintora e, mais ainda, na irmã mais velha Vivian (Shirley Chen), que está concluindo o Ensino Médio e não vê a hora de vazar de casa. A rota para Chris é reconfigurada quando ele se aproxima de um grupo de skatistas mais velhos que o acolhem, especialmente depois de ele se apresentar como videomaker amador (mesmo sem ter qualquer habilidade para filmar um esporte tão movimentado). É claro que, nesse universo de mentiras, de raiva do mundo, de incertezas sobre o futuro, de medos e inseguranças, de receios e tudo o mais, a chance de que tudo saia do controle é gigante. A gente tem uma dúzia de vergonhas para lembrar depois que cresce e amadurece e tudo será história. No caso de Wang, ele cria um filme em que o final feliz está em apenas existir. E ser amado pela pessoa que mais te apoia nessa idade. Comovente.
Nota: 8,5
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