De: Chris Sanders. Com Lupita Nyong'o, Pedro Pascal, Kit Connor e Catherine O'Hara. Aventura / Animação, EUA, 2024, 102 minutos.
Vamos combinar que, nos tempos atuais, o cinema de animação não quer e nem precisa reinventar a roda. Salvo algumas raríssimas exceções, em geral produções do gênero se esmeram em entregar o melhor em termos de tecnologia (e de imagem), que servirá de base para narrativas edificantes, que se alternarão entre histórias de amadurecimento, de aceitação, de respeito ás diferenças ou de superação de dificuldades. Mesmo que as obras sejam para os pequenos, as produtoras têm se esforçado em lembrar esse público de que a vida não é só alegria: a gente vai sofrer, chorar, se indignar, se arrepender. Rupturas ocorrerão - a morte também. É preciso estar preparado para enfrentar os desafios de existir e experiências como Robô Selvagem (The Wild Robot) - que pinta como um dos favoritos à categoria Animação no próximo Oscar - funcionam como alegorias perfeitas para isso.
Pra começar trata-se de uma animação bonita de se ver - ela tem um traço vívido, que quase a aproxima dos filmes japoneses. Depois tem a narrativa de desenvolvimento sobre um robô modelo Rozzum que, após um aparente acidente aéreo, fica preso em uma ilha onde precisará aprender a sobreviver. E, por fim, há o carisma irresistível dos personagens - da protagonista Roz (Lupita Nyong'o), passando pela raposa Fink (Pedro Pascal), que se tornará uma espécie de inesperada amiga naquele cenário, até chegar à Pinktail (Catherine O'Hara), uma mãe gambá que parece meio perdida em meio a tantas ninhadas (a ponto de sequer dar bola no caso de alguém se "perder"). Aliás, será justamente Pinktail que dará a barbada sobre como criar o pequeno filhote de ganso Brightbill (Kit Connor), que se torna órfão após perder a sua família biológica justamente por uma fatalidade, envolvendo a própria Roz (que fugia de um urso).
Em linhas gerais essa também é uma obra sobre aprendizado. Sobre acerto e erro. E que vale também para os adultos - e as variadas piadas sobre os desafios da maternidade parecem ser justamente um aceno (ou um afago mesmo) para os adultos que, em muitos casos, acompanharão a sessão ao lado de seus pequenos. Roz admite que não "sabe ser mãe" - algo que não estaria em sua programação original. Mas o caso é que, quem sabe? Quando cai na ilha, a protagonista é tratada como uma espécie de monstro pelos demais animais - grandes ou pequenos, selvagens ou não. Todos fogem ou saem correndo, por mais amistosa que a grande engenhoca seja, sempre oferecendo seus préstimos com gentileza. Compreender o outro, seu espaço e as diferenças será um exercício de paciência. Primeiro, aprender a língua dos outros. Depois conhecer seus hábitos. Por fim, estabelecer um diálogo, um vínculo, uma aproximação.
Roz perceberá que o mundo selvagem não é fácil, justamente quando seu pequeno Brightbill sofrer preconceito - ele tem alguma deficiência que lhe impede de crescer normalmente como os demais. O que poderá comprometer o seu futuro já que a chegada do inverno de avizinha e será necessário aprender a voar o quanto antes, para que ele possa acompanhar as demais aves no processo migratório. E será essa jornada que assistiremos. As dificuldades, os medos, as incertezas. Ao cabo esse é o tipo de produção que faz com que a gente engula em seco e mareje os olhos em vários momentos (sendo um, em especial, aquele que envolve a primeira entrada de Brightbill na água e a sua dificuldade de nadar). Aprender não é fácil. É preciso repetir. E tentar e tentar. Pode parecer um papinho meio de coach, mas para as crianças pode ser legal perceber que não nascemos sabendo. E que levaremos muitos tombos. A maioria das animações mexem justamente nesse foro mais íntimo. E talvez seja por isso que nos comovem tanto.
Nota: 8,5
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