De: Ryan Murphy. Com Jo Ellen Pellman, Meryl Streeo, James Corden, Nicole Kidman, Kerry Washington e Andrew Rannels. Comédia / Musical, EUA, 2020, 131 minutos.
Acho que esse 2020 tenebroso me tornou mais tolerante aos feel good movies musicais, caso desse A Festa de Formatura (The Prom) - que, nas entrelinhas, parece apenas uma obra bobinha, mas que tem uma poderosa mensagem sobre aceitação e respeito as diferenças. Sobretudo, trata-se de um filme bem humorado e que nos arranca sorrisos fáceis em meio a apresentações musicais bem coreografadas e absurdamente divertidas - algumas letras são um achado! Sim, é eventualmente brega, talvez excessivamente caricato ou feito apenas para agradar o público. Mas, ok, não podemos esquecer que trata-se de uma adaptação de um musical da Broadway que, aparentemente, não se deseja levar tão a sério. A trama é um fiapo: após uma jovem lésbica (Jo Ellen Pellman) ser proibida de levar a sua namorada ao baile de formatura da escola - aliás, o baile é cancelado -, um grupo de celebridades decadentes abraça a causa, com o objetivo de confrontar o conservadorismo e chamar a atenção da mídia de alguma forma.
No grupo de celebridades decadentes está - vejam só a ironia - a Meryl Streep, que encarna a veterana Dee Dee Allen. Respeitada em outrora, com dois Tonys na bagagem, Dee Dee tem de conviver atualmente com uma carreira em declínio, que culmina com a péssima recepção por parte da crítica especializada de sua mais recente peça de teatro. No elenco da mesma peça também está Barry Glickman (James Corden, que parece ter alguma dificuldade em não soar artificial), com a dupla encarnando Franklin e Eleanor Roosevelt no mais recente trabalho. Será afogando as mágoas, após a desastrosa noite de estreia, entre uma bebida e outra, que eles resolverão repaginar as suas imagens entrando de cabeça no ativismo. À dupla se juntarão ainda Angie Dickinson (Nicole Kidman) - outra estrela que anda pouco requisitada -, e o garçom e ex-integrante de uma sitcom de sucesso Trent Oliver (o ótimo Andrew Rannels). Rumo à Indiana, o quarteto se envolverá nas maiores confusões, enquanto adere a causa das adolescentes lésbicas.
E, aqui, não posso deixar de identificar certa irregularidade da narrativa que, vamos combinar, com suas mais de duas horas, se estende demais. O primeiro terço é absurdamente divertido, engraçado, dinâmico, cheio de piadas envolvendo o universo das celebridades, com citações culturais variadas e um certo grau de metalinguagem que procura colocar o dedo na ferida nessa opulenta máquina recicladora de artistas, que parece estar o tempo todo pronta para "fritar" seus astros. Outro componente que gera boas piadas, como não poderia deixar de ser, é conservadorismo dos moradores locais quando confrontado com o progressismo arrogante de Dee Dee, Angie e os demais - e a cena em que Dee Dee tenta dar um carteiraço em um gerente de um pequeno hotel do interior, mostrando seus prêmios, com o objetivo de conseguir uma suíte ou um quarto próximo do spa, é hilária. O mesmo valendo para a canção It's Not About Me entoada por Dee Dee já na chegada do grupo à Indiana (E a menos que esteja no elenco de O Milagre de Anne Sullivan / Não vou fazer papel de cega, surda e burra).
Só que a partir do segundo terço, a película amplia o componente melodramático e o filme se torna arrastado - e até as músicas mais chatas, com algumas raras exceções, caso da ótima Love Thy Neighbor. Consequentemente, a mensagem pretendida também se torna esvaziada e repetitiva: ok, já compreendemos que precisamos respeitar as diferenças, mas, podemos ir para os finalmentes? Ao invés disso, a obra do diretor Ryan Murphy se ocupa com tramas paralelas nem sempre bem costuradas - caso da história da mãe de Barry, por exemplo -, e até meio rasas (qual a função, exatamente, da Nicole Kidman no filme?). Fora personagens como a mãe conservadora vivida por Kerry Washington, que faz uma curva meio difícil de ser compreendida - e até meio direta demais. Ainda assim, não podemos esquecer: como comédia musical que quer passar uma mensagem sobre aceitação, o filme funciona direitinho e ainda brinca com o absurdo de haver pessoas preconceituosas e intolerantes em pleno 2020. Sim, às vezes é preciso esfregar o "óbvio" meio na cara - e isso a narrativa faz com maestria.
Nota: 7,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário