De: Chris Columbus. Com Macaulay Culkin, Joe Pesci, Daniel Stern, John Candy e Catherine O'Hara. Comédia, EUA, 1990, 101 minutos.
Eu tinha nove anos de idade quando Esqueceram de Mim (Home Alone) foi lançado. Foi um filme que fez parte da minha infância e que segue sendo absolutamente divertido - ainda que, hoje em dia, seja muito mais evidente e inegável a disfuncionalidade da família de Kevin (Macaulay Culkin), que simplesmente o esquece em casa quando resolve passar o Natal em Paris. É, a meu ver, o filme de Natal por excelência, cheio de sequências icônicas e de frases marcantes, que foram repetidas à exaustão pelos pré-adolescentes que cresceram naqueles inacreditáveis anos 90. Eu lembro até hoje das reuniões natalinas, com a primaiada agitando na casa da falecida vó Lucila, ocasião em que qualquer coisa era motivo para que replicássemos algum "fique com o troco, seu animal", em meio a árvores recheadas por pisca-piscas e presépios cuidadosamente montados (que, por um milagre, não destruíamos). O cinema, assim, nos dava os sinais de uma paixão que, mais tarde, amadureceria. E, no meu caso, faria um jornalista que também escreve sobre filmes.
E é por isso que revisitar o filme na última semana para o mais recente episódio do podcast - pode rolar a página que ele se encontra aqui embaixo - mexeu com a minha memória afetiva. Em tempos de pandemia fui invadido pelo sentimento nostálgico da época em que acreditávamos não apenas em Papai Noel, mas também no mundo. Foi bacana demais rever as peripécias de Kevin que, assim que sua família o deixa a deriva, se vê acossado por dois bandidos que pretendem assaltar a residência de sua família. A alternativa que ele encontra para se "defender"? Preparar uma série de armadilhas improváveis que possam dar cabo - ou ao menos afastar temporariamente -, os terríveis Harry (o sempre ótimo Joe Pesci) e Marv (Daniel Stern). E tome tombos, pancadas de todos os tipos, queimaduras diversas, furos, cortes e toda a sorte de ataques que mais parecem saídos de algum desenho do Papa Léguas e sua incansável fuga do coiote. É muito engraçado. É cartunesco. É pastelão. E certamente é inesquecível.
Vocês que regulam a idade com este jornalista que aqui escreve - tenho 39 anos -, certamente estão lembrando não apenas destes, mas de outros momentos icônicos da obra do diretor Chris Columbus, que mais tarde dirigiria a ótima sequência da película e também outros clássicos juvenis como Uma Babá Quase Perfeita (1993), além de filmes da série Harry Potter. Entre estas sequências há aquela em que Kevin organiza uma "festa improvisada" para despistar os meliantes, além da inesquecível cena em que o garoto recebe uma pizza e "testa o áudio" do filme que está assistindo e que, mais tarde, também servirá de estratagema no enfrentamento aos bandidos. É tudo leve, coeso, dinâmico e talvez não seja por acaso que a obra tenha sido acarinhada no Oscar de 1991, com indicações nas categorias Trilha Sonora e Canção Original. Isso sem contar as indicações ao Globo de Ouro - inclusive para Melhor Filme Comédia ou Musical.
Com uma mensagem bem à moda dos filmes dos anos 90 - de valorização da família e, especialmente, do perdão àqueles que amamos -, Esqueceram de Mim segue como uma graciosa comédia de costumes, que confronta o american dream sem ignorar o sentimento de conforto proporcionado por ele. Do caos inicial em que a casa dos McCallister se encontra ao singelo instante final há um turbilhão de acontecimentos que renovam as nossas esperanças para dias melhores de forma inadiavelmente acolhedora. E, confesso que reassistir à obra nesse dolorido 2020 de pandemia e de afastamento quase obrigatório de amigos e familiares como uma espécie de curioso gesto de amor, me fez bem demais. Assim, recomendamos que vocês façam o mesmo: retirem os VHS da gaveta (estamos brincando!), juntem a família na sala, respeitem o distanciamento e se divirtam com esse clássico atemporal. Mal não vai fazer. E talvez torne o Natal, como sempre o tornou, mais leve.
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