Mas foi com The Moon & Antarctica que esse ensaio para um rock mais comportado (ou convencional) começou a acontecer. Canções mais melodiosas e econômicas como a sinuosa Gravity Rides Everything - com sua guitarrinha ensolarada - apresentavam uma outra faceta da banda comandada por Isaac Brock. O expediente repatia-se em outras como Dark Center Of the Universe, The Cold Part e a ótima Paper Thin Walls, que eram rockões raiz que misturavam bateria, baixo, banjo, teclado num caleidoscópio musical sem pressa, que apresentava seus elementos aos poucos - o que não significava falta de explosão ou intensidade, como comprovavam músicas como Tiny Cities Made Of Ashes, com seu vocal torto, abafado e sua letra violenta e melancólica. As coisas apenas estavam mais claras, plácidas e possíveis de serem digeridas sem aquele amargor eventual - com idas e vindas bem pontuadas entre aceleração e introspecção. Bom, estava pavimentado o caminho para o disco seguinte, aquele que tinha Float On. E que fez este jornalista se apaixonar de vez.
Float On é aquele tipo de música acessível, perdida em meio a vocais que lembram um Danny Elfman do Oingo Boingo (mas mais otimista) e as melodias que conseguem ser ao mesmo tempo soturnas, circenses e primaveris e que tão repetidas mais adiante seriam, por grupos como Kaiser Chiefs, Franz Ferdinand e até Arcade Fire. Precursor destas, o Modest Mouse tornou mais acessível uma das pontas do indie rock - e não é por acaso que é simplesmente impossível fazer a canção desgrudar da sua mente depois de ouvida. Mas é aquele "grude do bem", que gostamos e queremos. Ainda mais com uma letra irresistivelmente otimista, capaz de tratar com deboche as ironias da vida (Eu dei de ré no carro de um policial um dia desses / Ele simplesmente saiu dirigindo, às vezes a vida é legal). Sim, é algo quase ingênuo, mas a vida já não é tão séria? E se apenas uma música consegue nos fazer esquecer isso por um instante que seja, já não faz valer a pena?
Bom, é óbvio que o Good News... não está no Lado B Classe A apenas por Float On - ainda que ela fosse quase suficiente para isso. A verdade é que o disco é uma grande coleção de canções. De momentos mais delicados e até divertidos, como em Bukowski, Blame In On the Tetons e na ótima e derradeira The Good Times Are Killing Me - todas elas estabelecendo um flerte com temas trazidos pela literatura beat (a sujeira do underground, os relacionamentos etílicos) -, a outros mais explosivos e intensos como em Bury Me With It e Dance Hall, a verdade é que se trata de um registro nem sempre homogêneo, com cada peça funcionando isoladamente, que resulta em um grande encaixe geral final. Não aparece em listas de melhores discos internacionais da história, aliás, não é nem o melhor disco do Modest Mouse (continua sendo The Moon & Antarctica). Mas é aquele que tem Float On e que nos faz ficar com os ouvidos mais atentos para cada curva sonora que mistura pouca lógica com acessibilidade. O pop, afinal, também tem lugar no coração dos alternativos. E foi aqui que a banda encontrou ele.
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