quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Picanha em Série - Killing Eve (1ª e 2ª Temporadas)

De: Phoebe Waller Bridge. Com Jodie Comer, Sandra Oh, Kim Bodnia e Fiona Shaw. Comédia dramática / Policial, Reino Unido 2018/2019, 700 minutos (total aproximado).

Surpreendente, sedutora, divertida, sangrenta! É simplesmente impossível classificar Killing Eve (Killing Eve), uma série que reconfigura totalmente o conceito de "jogo de gato e rato" que muitas vezes ocorre nos thrillers convencionais, assim subvertendo a sua lógica, se tornando imprevisível a cada novo episódio. Exibida originalmente pela BBC, a série coloca em lados opostos uma fria assassina psicopata, que leva a alcunha de Vilanelle (interpretada de maneira irretocável por Jodie Comer) e uma investigadora da inteligência britânica - e Eve do título (Sandra Oh) - que se empenhará de todas as formas em capturar a criminosa. A história é simples, mas o charme está em cada curva do programa, em cada investida de Eve na tentativa de alcançar Vilanelle e nas reviravoltas que tornam o programa uma espécie de bomba-relógio cômica e violenta em igual medida.

Com duas temporadas lançadas de oito episódios cada, a série começa com a assassina realizando o seu ofício - e executando as mortes para as quais é contratada das formas mais bizarras e cruéis possíveis. As vítimas podem ser desde burgueses pederastas, passando por testemunhas ocasionais, até renomados líderes políticos que, sabe-se lá por quê, encontrarão em seu caminho a fúria divertidamente agressiva (e sexy) de Vilanelle. Contratada por Konstantin (Kim Bodnia), que talvez tenha ligação com um grupo conhecido como "Os 12" e que representa o Governo Russo, a psicopata verá o cerco fechando ao seu redor, conforme Eve levanta pistas e se aproxima da sua antagonista. Mas há algo a mais nessa relação entre ambas, que explodirá futuramente em um misto de te(n)são e ódio, de admiração e de desprezo, encontrando seu limite nos fortuitos encontros entre ambas, que sempre serão concluídos de forma inesperada (inclusive para nós, espectadores).


Com ótimos desenho de produção, figurino e até objetos cênicos, a série, criada por Phoebe Waller-Bridge (a protagonista de Fleabag) reserva para o público um sem fim de episódios e sequências inesquecíveis e que podem envolver um simples frasco de perfume (ou um batom), um investigador em meio a boate na hora errada, um esfaqueamento de surpresa ou mesmo um maluco que "captura" Vilanelle e que parece ter mais problemas que a própria. Repleta de ambiguidades, a série ainda desperta dúvidas sobre o comportamento de certas personagens, como é o caso de Carolyn (Fiona Shaw) - afinal de contas, de que lado ela está? E há ainda o surgimento, no meio do caminho, de uma outra assassina, que leva a alcunha de The Ghost e que poderá modificar ainda mais o relacionamento entre Eve e Vilanelle. Entre o deboche a curiosidade, a vilã da história parece ficar, vejam só, com ciúme dos procedimentos da outra. Sim, nada é muito lógico no decorrer da história.

Indicada a vários Emmy - inclusive Melhor Série Dramática -, a premiação consagrou Jodie Comer como Melhor Atriz em Série Dramática no evento realizado no mês passado. E, vamos combinar que o show é todo dela. Cheia de trejeitos, alternando um humor mais sisudo com outro mais cômico, a atriz é parte do que torna Killing Eve tão interessante. Há alguma lógica em seus atos que a tornam uma espécie de anti-heroína involuntária (como no caso do assassinato abusadamente "colorido" e tenso ocorrido em um um bordel na Holanda). Há o sotaque delicioso, o gestual plácido, a graciosidade quase infantil como um contraponto para a brutalidade de sua violência e Comer faz tudo isso da forma mais natural possível, abusando dos olhares insidiosos, do comportamento furtivo. O que forma o contraponto perfeito para uma Sandra Oh igualmente talentosa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário