sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Novidades em DVD/Now - Meu Bebê (Mon Bébé)

De: Lisa Azuelos. Com Sandrine Kiberlain, Thais Alessandrin, Patrick Chesnais e Victor Belmondo. Comédia / Drama, França / Bélgica, 2019, 85 minutos.

Em uma das tantas sequências formidáveis do gracioso Meu Bebê (Mon Bébé), Heloise (a sempre ótima Sandrine Kiberlain) está desesperada porque perdeu o seu celular. Dentro do equipamento estavam todos os vídeos e fotos da filha Jade (Thais Alessandrin) realizados nos últimos três meses. Com 18 anos, Jade se prepara para estudar no Canadá, assim que terminar o Ensino Médio. É a última dos três filhos de Heloise que ainda está em casa - os outros dois irmãos também já saíram. E o motivo do desespero dessa mãe que, agora, vê o ninho ficar vazio, não é não ter fotos ou vídeos da filha. Quer dizer, é também. Mas é saber que o seu "bebê", como ela carinhosamente chama a caçula, vai estar longe. E que os filhos crescem e amadurecem, afinal,  passando a ter desejos e anseios próprios, que escapam os limites estabelecidos por tantos anos pelos pais. Sim, cortar o cordão umbilical não deve ser fácil para pais que são muito ligados aos seus filhos: e de alguma forma é isso que a película da diretora Lisa Azuelos (Rindo à Toa) aborda.

Bom, o filme teria tudo para ser uma xaropice sem fim, se o conflito central não fosse bem trabalhado. Ou se Jade se apresentasse como uma adolescente rabugenta, como muitas vezes são os millenials, com Heloise fazendo o contraponto de uma mãe quadrada, antiquada. Mas não. A obra estabelece a relação familiar como um núcleo plausível, em que as pessoas erram e acertam tentando fazer o melhor, mas que apresenta Heloise como uma figura eventualmente sobrecarregada - ela é divorciada - e que coloca, naturalmente, a maternidade quase sempre em primeiro lugar. Os "namorados" vêm e vão com hora marcada, o que talvez explique o fato de que, em uma das primeiras tentativas de sair com um outro homem, ela retorne desesperada para casa, ao perceber que estava atrasada em relação ao horário que deveria estar de volta a seus pequenos. O zelo é permanente. E isso transparece em todos os gestos, olhares e cuidados emanados, de forma comovente, pela mãe. Inclusive nas brigas ou nos conflitos.


É um filme sobre a relação de mães e filhos mas que, de maneira alguma é contraindicado para aqueles que não são pais - e nem desejam ser (como é o meu caso). Ao contrário, a obra tem personagens tão simpáticos que, em alguns casos, a vontade que temos é a de entrar na tela para poder também dar um abraço naqueles que assistimos. Nem tudo serão rosas nessas relações (todos nós sabemos disso): mas o filme é conduzido num misto de leveza, graça e drama capaz de nos fazer emocionar e rir em uma mesma sequência (como é o caso daquela que mostra uma homenagem dos filhos já adultos em um aniversário da mãe). Não é uma obra que torna pesaroso o processo de "entrega dos filhos para o mundo", compreendendo-o como algo natural. Ele também pode ter desejos, querer independência, experimentar - e aos pais cabe aconselhar e educar, mas não lutar contra isso. Nesse sentido, Sandrine é hábil ao transmitir essa ambiguidade: é óbvio que ela quer que a filha vá estudar em uma ótima faculdade. Mas como lidar com a distância?

Com uma série de flashbacks comoventes, a obra ainda é inteligente em suas rimas visuais - em duas cenas distintas envolvendo aeroporto, por exemplo, numa delas quem chora é a filha. Na outra, é a mãe. E por motivos distintos. Em outra Heloise acompanha Jade caminhando no corredor de sua casa, acompanhada de um namorado, ao mesmo tempo em que, nas suas recordações, enxerga a menina agora pequena, frágil, com medo, aos cinco anos, indo na mesma direção. São sutilezas que nos arrebatam, que geram empatia. No meio de tudo ainda há o inevitável choque de gerações, que gera um sem fim de divertidos antagonismos. É o caso de uma mãe que esbraveja dizendo "você vai ver quando tiver seus filhos", para ouvir como resposta um "eu NUNCA vou ter filhos". Há contrastes. Há semelhanças. Há amor e ódio - numa linha muito tênue. Há compreensão e dedicação. Há dor e perda - também simbolizada por um avô doente que se aproxima da morte. E há também o olhar "libertador" de Heloise, quase nos instantes finais, com a sensação de missão cumprida. Ao menos até ali.

Nota: 8,0


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