Vamos combinar que, em relação aos episódios anteriores, não há muita inovação no Toy Story 4 (Toy Story 4). Mas, como sempre acontece na série, trata-se de um filme bom de assistir e muito acima da média, quando o comparamos a outras animações. Partindo exatamente de onde parou no final do terceiro episódio, Woody (Tom Hanks) e companhia estão em uma nova casa, onde agora são "propriedade" da pequena Bonnie (Madeleine McGraw), que está prestes a ir para a pré-escola. No educandário, Bonnie construirá, de maneira artesanal, um novo brinquedo improvisado - de nome Forky (Tony Hale) -, que será seu novo xodó. Mas quando, em meio a uma viagem de férias, Forky desaparece, Woody, Buzz (Tim Allen), Jessie (Joan Cusack) e outros brinquedos antigos e novos, juntarão forças para que o objeto seja devolvido ao local que pertence.
Bom, como em todos os filmes da série, um fiapo de história sempre é o motivo para que o grupo se envolva em grandiosas aventuras, em que todos têm de superar desafios praticamente impossíveis, para que as coisas estejam de volta ao seu lugar. É aquela obra que num instante nos faz rir, noutro se empenha em nos fazer chorar, trazendo sempre uma mensagem otimista sobre a importância da amizade, da lealdade, de amadurecer e mudar e até de reconhecer o valor das coisas simples. Forky vai parar, inesperadamente, em uma espécie de loja de antiguidades. E no local terá de lidar com figuras ambíguas e pouco amistosas, como a boneca Gabby Gabby (Christina Hendricks) que, ao lado de outros brinquedos de aparência meio macabra, farão um contraponto vilanesco. Já ao grupo de Woody, há o reencontro com Bo (Annie Potts), que terá bastante relevância neste episódio e a adição de novos parceiros de aventuras, como o motoqueiro metido Duke Kaboom (Keanu Reeves) e a dupla Bunny (Jordan Peele) e Ducky (Keegan-Michael Key), que garantem o alívio cômico.
Nesse sentido, ainda que aqui e ali a narrativa se esforce em tentar fazer o espectador chorar, parece ser um filme menos comovente que o anterior. Há sim, nas entrelinhas, um novo tipo de mensagem sobre o "destino dos brinquedos", sobre pertencimento e sobre descobrir um mundo para além daquele que se delimita a um quarto (brinquedos podem almejar algo a mais, afinal?). Num contraponto, momentos divertidos como o desejo latente de Forky, um garfinho de plástico que vira brinquedo, de ir para um "outro local" são engraçados, ainda que eventualmente repetitivos. O mesmo valendo para a piada com Bunny e Ducky e seu grande poder de imaginação na hora de cumprir uma missão que envolve a tentativa de pegar uma chave. É tudo grandioso, megalomaníaco, com os personagens saltando por cenários em grandes proporções, se enganchando e se pendurando de um local a outro, tendo um parque de diversões como pano de fundo. Sabe quando dá a impressão de que uma missão não vai dar? Vai dar.
Do ponto de vista técnico a série impressiona cada vez mais a cada novo capítulo - e chega a ser assombroso perceber o realismo da animação já na abertura do filme, durante uma cena na noite chuvosa. O mesmo valendo para o momento em que um gato aparece e é necessário fazer alguma força para driblar a ideia de que o bichano possa ser de verdade. É um trabalho exuberante e que, dado o grau de detalhamento, merece ser reconhecido. Mas como história, confesso que Toy Story 4 apresenta alguns sinais de desgaste. As crianças crescem, se desapegam aos brinquedos, que passam a ter outros destinos, outros sentidos, nas mãos de outras pessoas. Talvez tudo isso funcione como uma metáfora para a própria película. Quando ela surgiu, ainda lá em 1995, ela era uma novidade contagiante como é um novo e deseja brinquedo nas mãos dos pequenos. Mas, lá pelas tantas, o tempo passa e começam os sinais de desgaste. Ainda há tempo de uma aposentadoria honesta para a franquia. A impressão que temos é a de que ao menos o Woody já percebeu isso.
Nota: 7,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário