É muito provável que as palavras "faroeste" e "moderno" quando aplicadas na mesma frase, na atualidade, não façam lá muito sentido. O estilo que consagrou John Wayne, desde o final dos anos 60 soa datado. É sinônimo de um tipo de cinema maniqueísta em que caubóis americanos surgem como a representação do bom moço que defende a propriedade privada, teme a Deus e respeita a família - sendo os índios nativos o oposto disso, retratando a barbárie, a desorganização e a falta de caráter. Bom, o cinema evoluiu e, que bom, deixou algumas conservadoras convenções, que hoje soam quase caricatas, para trás. Mas, ainda assim, láááá de vez em quando, é lançado algum bom filme que rememora o estilo, honrando-o e, por quê não, repaginando-o. É é justamente este o caso desse sensacional Os Indomáveis (3:10 To Yuma).
Os Indomáveis é, na verdade, uma refilmagem que melhora a sua versão original, lançada em 1957 - e que já era muito boa, diga-se (quem quiser procurar, a película se chama Galante e Sanguinário). Na trama, acompanhamos o rancheiro Dan Evans (Christian Bale) que, com sérias dificuldades financeiras, aceita um trabalho meio ingrato: acompanhar um comboio que pretende levar o perigosíssimo bandido Ben Wade (Russel Crowe) até a cidade, onde ele será colocado no trem e enviado para Yuma, onde será julgado e, muito provavelmente, enforcado. Só que Wade não atua sozinho e em seu encalço estará o seu bando que, chefiado pelo nada amistoso Charlie (Ben Foster em impressionante caracterização), fará de tudo para acompanhar cada passo dado pela diligência. Trata-se, portanto, de uma missão bastante arriscada. Ah, e ainda há os índios, claro. Que surgirão para tornar tudo ainda mais difícil.
Bom, não é preciso ser nenhum adivinho para saber que a jornada de Evans, Wade e os outros que lhes acompanham será complicada, mas também reveladora. Com voz plácida e muito carisma, Crowe transforma seu Wade de figura absurdamente monstruosa capaz de matar sem nenhum conflito moral, em um vilão com motivações convincentes (e até genuinamente "aceitáveis"). Já Bale permanece inabalável como o sujeito que prefere morrer a não conseguir dar conta de "criar" ou "sustentar" a sua família, sendo a relação meio conturbada com o filho mais velho (Logan Lerman), o objetivo que direciona em relação a sua meta. Já Foster, inexplicavelmente esnobado pela Academia naquele ano, surge como o braço direito de Wade: um sujeito de feições suaves (quase afeminadas), mas que guarda diversos tons de ódio em sua alma, não hesitando em matar o que aparecer pela frente para alcançar seus objetivos. E é na força da interpretação da trinca centrar de atores, que está uma das fortalezas da obra do diretor James Mangold (de Johnny e June e Logan).
Equilibrando momentos mais agitados - é óbvio que não faltarão tiroteios e perseguições a cavalo (se trata de um faroeste, afinal) -, com outros mais introspectivos (e que rendem excelentes diálogos entre os homens que integram a diligência), o filme ainda passa de raspão em temas como relação patrão x empregado, luta de classes e enfrentamento ao sistema, especialmente o financeiro. Tensa, a obra levará o espectador ao limite em diversas sequências de suspense, sendo quase sempre imprevisíveis as reações das personagens diante do perigo, o que faz com que tenhamos motivos para "torcer" tanto por mocinhos como para bandidos. Com um final desalentador (em parte), mas inesquecível, a obra nos lembra ainda da importância da honra nesse mundo tomado por homens: talvez nem todas as batalhas sejam vencidas. Mas o importante será levantar a cabeça e conseguir seguir em frente. De preferência com orgulho daquilo que se alcançou.
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