Retrato de Amor (Photograph) pode até ser um filme de estrutura convencional - talvez até previsível -, mas é contado com tanta sensibilidade e sem floreios, que se torna uma sessão imperdível. E, de quebra, ainda nos faz conhecer um pouco mais da cultura indiana e seus hábitos, especialmente no que diz respeito aos relacionamentos. Na trama, um homem de trinta e poucos anos, é pressionado pela sua família (materializada por sua avó) a se casar. O homem é o fotógrafo Rafi (Nawazuddin Siddiqui), que passa os dias nos arredores de Mumbai tentando comercializar fotografias da região para turistas ou visitantes. Em uma de suas investidas fotografa a jovem Miloni (Sanya Malhotra). Ao entregar a foto, vem com ele um inesperado convite: fazer de conta que é a sua noiva durante a visita da avó, que está para acontecer. Tímida, a moça reluta. Mas, no fim, aceita a ideia.
Bom, não é preciso ser nenhum adivinho para saber que a aproximação entre Rafi e Miloni, inicialmente completos desconhecidos, se transformará em um algo a mais no decorrer da história. Do silêncio e das poucas palavras iniciais - quando ainda da montagem do estratagema que engambelará a avó - até o final da história, a dupla se tornará mais íntima, encontrará pontos em comum, fará amizade e em algum momento romperá. Aliás, o tipo de estrutura típica das comédias românticas americanas. Poético, o filme utilizará a metáfora da fotografia, o instantâneo que captura a imagem, memorizando-a, para falar de permanência e materialização de uma realidade que dura por apenas um segundo, mas que poderá ser eternizada em um clique. Desajeitada, a dupla sustentará o seu segredo, sendo esta uma das maiores diversões do filme: assistir as interações da avó, que avança sobre a dupla, eventualmente desconfiada, mas invariavelmente divertida.
Não é um filme ostensivo naquilo que ele se propõe. Ao contrário, todas as suas eventuais mensagens são sutis, sugeridas. Miloni, por exemplo, é estudante e de uma família mais abastada, como percebemos nas interações dela com as empregadas da casa. Já Rafi estaria na classe social oposta, com amigos barulhentos, histriônicos, lutando dia após dia para, com as suas fotos, poder botar comida na mesa. Esses contrastes surgem de forma eficiente, no comportamento de cada personagem, sem a necessidade de se esfregar nada na cara do espectador. E talvez por isso o esforço de Rafi para conseguir um tipo particular de bebida, uma das preferidas de Miloni, como assistimos no terceiro ato, é tão comovente. É o valor das pequenas coisas: um sorvete na rua, uma correntinha dada de presente por um parente, um filme assistido (nem que já se saiba o final).
Divertido, dramático e até romântica em doses parecidas, o filme ainda aproveita ao máximo a presença luminosa da veterana do cinema indiano Farrukh Jaffar que, aos 85 anos, transforma a avó (a Dadi), numa figura ao mesmo tempo histriônica e enigmática, engraçada e sisuda. Seja na cena em que ela tira uma foto do casal, dizendo para eles se aproximarem ("ela não é um arame farpado"), ou nos momentos em que ela se diverte (e é ranzinza) no albergue que Rafi divide com os amigos, cada sequência em que ela aparece, se torna especial. O que faz com que compreendamos, inclusive, a devoção (e o respeito) do neto em relação a idosa. Com um divertido final metalinguístico - um dos melhores do ano, diga-se - Retrato de Amor jamais será aquele filme inesquecível. Mas, tal qual um retrato valioso, deixará a sua marca por algum tempo.
Nota: 8,0
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