De: Francis Ford Coppola. Com Adam Driver, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Giancarlo Esposito e Shia LaBeouf. Ficção Científica / Drama / Fantasia, EUA, 2024, 138 minutos.
Metáforas tolas, diálogos e narrações em off vazias, dificuldade de compreender qual exatamente é a crítica, ausência de qualquer propósito e um senso de autoimportância fetichista e irritante. Sinceramente, são tantos os problemas em Megalópolis (Megalopolis) - o projeto megalomaníaco de Francis Ford Coppola, que agora chega às plataformas de streaming para aluguel -, que é difícil saber por onde começar. A história é que o famoso realizador de clássicos inadiáveis como O Poderoso Chefão (1972) e Apocalypse Now (1979) levou quarenta anos para conceber essa ambiciosa produção. Que custou cerca de US$ 140 milhões do próprio bolso - em um dos maiores casos de desperdício deliberado de dinheiro que se tem conhecimento. Enquanto assistia ao interminável filme, revirava tanto os olhos frente ao absurdo, que eles quase foram parar na minha nuca. É algo digno de dor de tão ruim. Quase de pena, já que a expectativa era alta.
E, vamos lá, eu não tenho problema algum com obras complexas ou mais eventualmente filosóficas e existencialistas - e que exigem do espectador uma pequena saída da zona de conforto, para que haja um maior envolvimento. Esse até é um processo bastante natural pra quem consome produções do circuito alternativo - e não quero soar pedante aqui. Mas o caso é que a grandiosidade aqui é apenas oca. Quase infantil. "O fim da raça humana será morrer de civilização" comenta alguém, citando outra pessoa (que não lembro quem) em certa altura, como que tentando resumir o que está nas entranhas do filme. Se o futuro parece incerto e sombrio, cabe aos sujeitos do presente tentarem se prevenir. Lá no meio, se a gente cavoucar bastante, vai parecer haver, em cada divagação supostamente épica de Cesar Catilina (Adam Driver), uma crítica ao capitalismo, ao fascismo, à sociedade de consumo hedonista, à burguesia e a sua sede de poder. Mas, assim, nunca fica exatamente claro.
Em tempos em que a realidade sempre será pior do que a mais lamentável distopia, assistir a disputas de poder familiares, talvez shakespereanas (mas sem nenhum charme), geram apenas bocejos. Sim, nesse País alternativo que é uma Nova York retrô futurista - chamada de Nova Roma -, os poderosos e aristocratas têm nomes que aludem aos romanos (Cesar, Cícero, Crassus, Clódio), vestindo togas, adereços e adotando cortes de cabelo de séculos atrás, mesclados com capas e outros enfeites que parecem de algum lugar entre o início do século passado e um futuro já meio kitsch. E será em um evento televisionado por uma emissora sensacionalista, que Cesar apresentará para os moradores da cidade, incluindo o prefeito Franklyn Cícero (Giancarlo Esposito), uma espécie de substância milagrosa, de nome Megalon, que possibilitará desbloquear o potencial artístico da cidade, que estaria meio preso em visões políticas ultrapassadas e em uma inércia galopante.
Cesar, esse jovem meio idealista, encontrará resistência de Cícero que não acredita que o caminho seja o das grandes revoluções. Ainda assim, o sujeito receberá apoio, na surdina, de Julia (Nathalie Emmanuel), a filha do prefeito (para desgosto dele). Em paralelo, outras figuras (nem tão) relevantes se movimentarão em suas ambições, estando entre elas a apresentadora de TV Wow Platinun (Aubrey Plaza), seu tio milionário Hamilton Crassus (Jon Voight), seu primo Clodio (Shia LaBeouf) e o motorista e assistente de Cesar, Fundi (Laurence Fishburne) - e, sério, acho que não citei até aqui 20% dos personagens que surgem, aqui e ali, nesse emaranhado. No mais, existem uma série de supostas ousadias estilísticas que não servem pra coisa nenhuma. Uma delas, a principal: Cesar é capaz de parar o tempo. Mas nunca sabe o quê fazer exatamente com essa habilidade, que se converte ali adiante na mais superficial alegoria. O tempo está passando depressa? Ou não? Qual a ideia por trás? Em certa altura um satélite russo está para cair na Terra, justamente em Nova Roma e não pode haver nada mais anos 80 do que um satélite russo caindo em solo estadunidense.
Há ainda outras metáforas vazias, como o instante em que estátuas que representam figuras da Justiça começam a ruir - uau, a decadência jurídica do tecido social -, ou aquela em que uma virginal cantora pop surge em cena como uma espécie de representante da pureza perdida nessa sociedade em declínio (que mais adiante só se revelará completamente hipócrita, naquela que talvez seja a sua única boa sequência). É tudo tão desconectado, com cada ponto sendo unido sem muita coerência, que a impressão que temos é a de estar diante de uma grande esquete de teatro amador e alternativo em que, em certa altura, não entendemos coisa com coisa. E só torcemos pra acabar logo pra poder ir embora. Com interpretações ruins - especialmente um Adam Driver empolado, verbalizando cada frase com uma solenidade opaca - e com personagens que a gente não dá a mínima, o filme ainda desperdiça aquela que poderia ser a sua fortaleza: no caso, a parte técnica. Já que a impressão, em certos planos, é de estarmos diante de uma cidade feita com uma versão beta de IA. A gente não tem como parar o tempo, assim como Cesar. Então resta lamentar as quase duas horas e meia cinéfilas desperdiçadas nessa bomba.
Nota: 0
Nenhum comentário:
Postar um comentário