terça-feira, 8 de abril de 2025

Novidades em Streaming - Acompanhante Perfeita (Companion)

De: Drew Hancock. Com Sophie Tatcher, Jack Quaid, Rupert Friend e Megan Suri. Suspense / Ficção Científica, EUA, 2025, 97 minutos.

[ATENÇÃO: ESSE TEXTO TEM SPOILERS]

Robôs que adquirem algum tipo de consciência e que, frente a toda crueldade e maldade dos seres humanos, tentam a todo o custo se libertar deles. Vamos combinar que esse tipo de história - atualmente bastante frequente na coleção de episódios apenas medianos de Black Mirror - não chega a ser uma novidade. Em épocas de inteligência artificial embasbacante - e eventualmente ameaçadora (ao menos do ponto de vista utilitário) -, um filme como Acompanhante Perfeita (Companion) ainda é capaz de nos surpreender? E como se já não bastasse esse recurso narrativo pra lá de batido, aqui, ainda temos o suspense da casinha isolada no meio do nada, onde um grupo de amigos se reúne para um final de semana e que, com cinco minutos de filme, a gente sabe que as coisas começarão a dar errado. "Acho que a Kat não gosta de mim", diz Iris (Sophie Tatcher), já na chegada ao local, que sequer aparece no mapa do GPS.

Ok, talvez não fosse um grande problema recorrer a esses recursos pra lá de óbvios, mas o caso é que a obra de Drew Hancock não funciona muito bem em nenhum gênero em que ela tenta, de forma atrapalhada, existir. Como suspense? Bom, simplesmente na primeira linha de diálogo a gente já sabe que Josh (Jack Quaid, com a mesma cara de songa monga de sempre) vai morrer. Porque uma narração em off de Iris nos avisa disso. Como ficção científica existencialista? Nada. Não há nada que aprofunde os eventuais dilemas morais de "namorar" um robô ou uma inteligência artificial qualquer, que já não tenha sido feito anteriormente, de forma muito mais inteligente e com boas reflexões, como nos casos de Ela (2013) e Ex-Machina: Instinto Artificial (2015), por exemplo. Romance heroico? Josh, a despeito de ser um cara boa pinta, parece ser um tipo de incel pós-moderno, que não consegue se relacionar com o sexo oposto. Mas até a respeito disso não conseguimos ter alguma certeza. Não há nada sobre a vida daqueles personagens, para além do final de semana em grupo.

 

 


Claro, lá pelas tantas a gente compreenderá as motivações de todos ali. No grupo parece haver um vilão cruel - um russo (sério, em 2025), que é justamente o dono da casa e que possui negócios escusos que nunca ficam muito claros -, e nada mais justo que dar cabo dele. Como? Transformando a protagonista robô, devotíssima à seu dono, na assassina involuntária. Claro que ser apenas um objeto feito para o uso de seres humanos de códigos éticos questionáveis ("ei, eu comprei você para que você me satisfaça sexualmente, então, apenas durma") já converteria Iris meio que, automaticamente, na mocinha da história. Só que, a menos que haja alguma alegoria mais profunda sobre opressão de minorias ou algum tipo de metáfora sobre masculinismo tóxico ou a respeito de misoginia que eu não tenha pego no ar, o fato de torcer por uma robô apenas por torcer, tornando todas as pessoas do entorno em figuras lamentáveis, é de uma misantropia meio atroz. E, sim eu já tô flertando com a misantropia. Basta ver o mundo. Não preciso muito desse filme pra isso.

Em linhas gerais, a despeito de um ou outro mérito na produção, há absolutamente pouco espaço para a tensão levada até um certo limite, já que qualquer pessoa que tenha lido uma resenha descritiva, ou assistido o trailer já sabe que temos uma robô, um namorado babaca, uma casa na floresta e alguns crimes. Por vezes eu cheguei a me perguntar se a obra teria mais estofo se saísse daquele microcosmo frágil de meio dúzia de pessoas com suas atitudes estúpidas e mesquinhas, que ninguém se importa. O que tá rolando fora do Twitter? No mundo real, namorar robôs é comum? Eles nunca dão defeito ou descambam pra algum tipo de violência, estando sujeitos a redpills aleatórios, que as adquirem - sempre bonitas, com suas peles de borracha perfeitas -, diretamente de seus quartinhos fedendo a Doritos e Fanta? Por fim, acho que o mundo cresceu meio que demais, pra que consigamos prestar atenção a um filme desses. Especialmente sem alguma materialidade que instigue o debate. Robôs em fuga, correria, sangue, violência, casa isolada. Nos anos 90 - época em que Iris, do Goo Goo Dolls, que a produção tenta nostalgicamente nos forçar - talvez rolasse. Hoje em dia, nem pra distopia serve.

Nota: 4,0 


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