Se tem uma artista que transita bem entre o experimental e o acessível, esta é a inglesa Tirzah. Se em alguns momentos as suas melodias sofisticadas parecem envoltas em névoas intransponíveis, em outros os elementos descomplicados dos versos parecem um convite à simplicidade. Foi assim com os elogiados Devotion (2018) e Colourgrade (2021), com o expediente se repetindo agora, com o ótimo Trip9love...???. Ao cabo, esse é aquele tipo de disco que vai te ganhando aos poucos, a cada repetição, a cada nova investida ao encontro dos sussurros hipnóticos da artista. Sim, a coisa toda pode parecer meio hermética num primeiro momento, dados os efeitos eletrônicos complexos, as quebras de andamento nunca óbvias ou a condução evidentemente enigmática, que fazem cruzar com naturalidade estilos como R&B, trip hop, bedroom pop e minimal wave. Mas o resultado é palatável, suave, harmonioso.
Um bom exemplo desse expediente pode ser encontrado na envolvente u all the time, que começa com um pianão classudo que, ali adiante, se encontrará com um sintetizador levemente poluído, que encaixará direitinho com o minimalismo dos efeitos e com o vocal límpido. Já their love é aquele tipo de canção que já começa com uma espécie de refrão improvisado, que se engancha numa ponte atmosférica, com tudo terminando com aquela sensação de que algo ficou incompleto - aliás, como em muitos casos são os relacionamentos, com suas complexidades e incertezas. Sombrio e melancólico em todas as suas possibilidades, o disco produzido por Mica Levi parece mergulhar em dores cíclicas, que martelam de forma vertiginosa. Mas ali adiante há um pontinho de esperança, que ilumina tudo.
Nota: 8,5
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