quinta-feira, 16 de maio de 2019

Cinema - O Mau Exemplo de Cameron Post (The Miseducation Of cameron Post)

Com Chloë Grace Moretz, Emily Skeggs, Forrest Goodluck, Jennifer Ehle e John Gallagher Jr. Drama / Romance, EUA, 2018, 90 minutos.

Pela temática bastante parecida, O Mau Exemplo de Cameron Post (The Miseducation Of Cameron Post) poderia muito bem ser exibido como uma sessão complementar de Boy Erased: Uma Verdade Anulada. E, numa boa: em um mundo com tantos retrocessos - com um avanço universal e inexplicável de uma extrema-direita odiosa, que tem dificuldade de conviver com aquilo que é diferente ou que foge do padrão -, mais serão bem-vindas obras que façam pensar, refletir, mesmo que com assuntos semelhantes. Pra falar a verdade, os temas nunca se esgotam sendo importante reforçá-los, afinal de contas, sempre haverá outras nuances e outras possibilidades de abordagens. Os filmes podem até não ser inesquecíveis ou grandiosos. Mas muitas vezes serão reflexo de seu tempo. É é justamente o caso dessa pequena e sensível película, que foi exibida no último Festival de Sundance.

Na trama, que se passa em 1993, a Cameron Post (Chloë Grace Moretz) do título original é uma jovem gay, que é flagrada pelo candidato a namorado, transando com a melhor amiga dentro de um carro de um estacionamento, em plena noite de formatura. Cameron perdeu os pais quando era mais nova, mas ainda assim é enviada pela devota tia a uma espécie de centro religioso que promete restaurá-la sexualmente - sim, as famosas clínicas para a cura gay que, pasmem, ainda existem nos Estados Unidos. No local ela terá contato com todos os clichês metodológicos que prometem uma vida próxima de Deus, longe do pecado e adequada as famílias de bem. Em meio a jogos lúdicos e canções sacras, a busca por compreender a si própria, tentando entender onde ocorreu o "desvio" que lhe fez preferir mulheres ao invés de homens. Corridas? Uma excessiva aproximação com o pai? A metáfora do iceberg - que esconde muito mais por baixo das águas - será o guia para aquilo que, já sabemos, não dará certo.


Só que diferentemente do que ocorre com Boy Erased, Cameron realmente tem dúvidas a respeito de sua condição. Se sente inadequada - "com nojo de si mesma", com ela diz. Por mais que em uma escapadela ela transe com uma colega de reformatório e se aproxime dos amigos Erin (Emily Skeggs) e Adam (Forest Goodluck) - com quem fuma maconha escondida e pratica outras "subversões", como ouvir músicas de bandas como 4 Non Blondes e The Breeders -, a jovem convive em um universo de incertezas. Ela poderia efetivamente se curar, assim como ocorreu com o reverendo Rick (John Gallagher Jr.)? Será nessas idas e vindas, sem o apoio dos pais - que aparentemente teriam um pensamento mais progressista - que Cameron procurará lidar com seus próprios medos, anseios e dúvidas. A juventude já não é um período fácil. Pra quem acha que está doente por amar/gostar/ter desejo por pessoas do mesmo sexo, certamente será pior.

Nesse sentido, a obra funciona como uma grande coleção de pequenos recortes, feitos com alguns silêncios e um clima "pastoril" em que momentos mais leves se alternam com outros mais pesados. A luta contra o pecado ou contra a "confusão de gêneros" se apoia em comparativos curiosos, com o no momento em que a doutora Lydia (Jennifer Ehle) pergunta aos alunos se eles permitiram uma passeata de drogados. Todos parecem empenhados em trazer o assunto à tona, mas sem ofender, sem aprofundar o debate o que, inevitavelmente, Boy Erased faz com mais qualidade. Dá pra soar mais panfletário sem pesar a mão ou sem ser excessivamente maniqueísta e, nesse sentido, parece faltar ainda um pouquinho de engajamento à essa película. Ainda assim o propósito é válido e quanto mais filmes sobre assuntos que confrontam, que tiram do lugar comum e quebram a hegemonia do status quo, melhor.

Nota: 7,5




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