quarta-feira, 29 de junho de 2022
Grandes Filmes Nacionais - Bye Bye Brasil
terça-feira, 28 de junho de 2022
Novidades em Streaming - A Colmeia (Zgjoi)
Pitaquinho Musical - Johnny Hooker (ØRGIA)
Se divertir, mas sem perder a capacidade de indignação. Dançar e refletir. Sentir ternura, amar, mas sem abandonar as questões que incomodam. É dessa dualidade que emerge um dos grandes discos nacionais do ano - no caso o maravilhoso ØRGIA, do Johnny Hooker. Em entrevista concedida ao UOL ainda em 2021, o artista afirmou que o Brasil precisava voltar a beijar na boca. "Voltar a ser feliz, ter desejo, se apaixonar, sofrer por amor. Voltar a viver, é isso. A minha música traz isso", resumiu. Pois essa espécie de expiação pedida pelo cantor, parece combinar ainda mais com esse 2022 tão duro, tão difícil, tão áspero - o que talvez explique a facilidade com que abrimos um largo sorriso diante de pequenas joias, como, Amante de Aluguel, Larga Esse Boy, Nos Braços de Um Estranho e Nhac!
Misturando estilo variados que vão do tecnobrega, passando pelo samba, até chegar ao pop alternativo, à música eletrônica e até ao sertanejo universitário, Hooker converte este terceiro registro em uma celebração à vida, que se apoia na tríade noite, sexo e política. Exemplo central desse expediente está na sinuosa CUBA, que joga o ouvinte para uma espécie de reggaetown improvisado e lânguido, enquanto o refrão pegajoso faz um convite que funciona tanto como como carta de amor, quanto como resposta ao ávido bolsominion que deseja enviar qualquer um que não apoie o seu projeto de presidente à ilha da América Central (Que só de te ver / Eu penso em largar tudo e fugir com você / Pra Cuba / Completamente, totalmente na tua). Ao cabo, é um disco debochado, cheio de calor humano, e que nos faz lembrar de que, em meio ao caos, a arte pode nos divertir e resistir em igual medida.
Nota: 9,0
segunda-feira, 27 de junho de 2022
Novidades em Streaming - Cha Cha Real Smooth: O Próximo Passo (Cha Cha Real Smooth)
sexta-feira, 24 de junho de 2022
Novidades em Streaming - Jerry e Marge Tiram a Sorte Grande (Jerry and Marge Go Large)
De: David Frankel. Com Bryan Cranston, Annette Bening, Rainn Wilson, Anna Campe Jake McDorman. Comédia / Drama, EUA, 2022, 96 minutos.
Um filme com uma história simpática, um elenco cheio de carisma e uma mensagem ok sobre a importância da coletividade. Assim é Jerry e Marge Tiram a Sorte Grande (Jerry and Marge Go Large), obra dirigida por David Frankel - de O Diabo Veste Prada (2006) - que está disponível no catálogo da Paramount+. Na trama, inspirada en eventos reais, acompanhamos o casal Jerry (Bryan Cranston, nosso eterno Walter White de Breaking Bad) e Marge (Annette Bening), que moram em uma daquelas cidadezinhas do interior do Michigan, em que uma boa parte dos habitantes trabalha na indústria local (no caso aqui, uma fábrica de cereais). Às portas da aposentadoria, Jerry parece ser invadido por uma certa melancolia após mais de 40 anos dedicados ao seu ofício - muitos deles como gerente de operações, algo que tem a ver com a sua aptidão para a matemática. Na primeira noite afastado de suas atividades, recebe da esposa e dos filhos um barco para que possa pescar - uma espécie de símbolo dos dias mais folgados que virão. Mas, e o que mais?
Na expressão abatida de Jerry parece emergir um sentimento de tristeza. É isso que reserva a vida? Pescar até o fim dos dias? Marge tenta animá-lo com frases sobre agora serem "apenas eles" e sobre a oportunidade de descobrir novos propósitos. Mas por onde? Quando mais novo, Jerry costumava entreter o filho Ben (Jake McDorman) em um exercício sobre tentar encontrar moedas de valor (raras) em meio a outras convencionais. O tédio daquela época virou apenas distância nos dias de hoje - e não deixam de ser sutilmente comoventes as sequências em que Jerry recorda instantes da adolescência do rapaz, quando ele tentava pedir algum suporte emocional para o pai, que se via absorto em outros interesses. Bom, não demora para que o protagonista se sinta revigorado ao conferir os números da loteria estadual, fazer alguns cálculos de probabilidade, e descobrir a possível existência de uma brecha que lhe permite ter ganhos praticamente ilimitados.
Sim, o filme basicamente é isso: sobre um casal de sessenta e tantos anos se sentindo reanimado para a vida, vendo seu próprio relacionamento ser oxigenado pela oportunidade de, a cada punhado de semanas, burlar o sistema dos jogos, ampliando seus rendimentos. Mas se engana quem pensa que essa é apenas uma comédia bobinha sobre como a ganância pode ser uma desgraça. Sim, esse componente até aparece lá pelas tantas, a partir do momento em que um grupo "rival" de astutos e ambiciosos jovens estudantes de Harvard também descobrirem a falha - o que renderá uma ótima coleção de piadas sobre o abismo geracional entre os antagonistas. Mas o principal ponto aqui é o que Jerry e Marge fazem com o dinheiro, reestruturando empreendimentos, apoiando uns aos outros financeiramente e distribuindo as riquezas entre toda a comunidade (que se vê estimulada até a fazer um grande festival de jazz local, como uma espécie de símbolo dessa união improvisada).
É claro que nem tudo dará tão certinho assim. Há, por exemplo, uma jornalista empenhada em trazer o assunto à tona - e a denúncia da fraude poderá representar um fim para o esquema. E existe também a própria entidade que comanda o sistema de loterias do Estado, que poderia complicar tudo. Só que tudo flui de forma muito leve, agradável, com o elenco claramente se divertindo em meio a inesperados comentários sociais sobre assuntos como sexo na terceira idade, provincianismo dos moradores de pequenas cidades, tédio na aposentadoria, e tentativas aleatórias de algum tipo de sentimentalismo mais acolhedor que, sinceramente, em tempos tão brutos, tão duros como os que vivemos, também não faz mal. A propósito dos atores, Rainn Wilson (o Dwight de The Office) está naturalmente engraçado como o "dono da bodega" que ajuda a dupla em suas tramoias, ao passo que Anna Camp e Larry Wilmore - que é o contador e também o agente de viagens local - cumprem seus papeis a contento. Jerry e Marge Tiram a Sorte Grande é simples, direto, sem grandes conflitos e, talvez por isso, meio esquecível. Mas pra uma noite de sexta-feira em que se queira apenas relaxar, pode ser uma boa pedida.
Nota: 7.0
quinta-feira, 23 de junho de 2022
Novidades em Streaming - Pleasure
terça-feira, 21 de junho de 2022
Novidades em Streaming - Fruto da Memória (Mila)
De: Christos Nikou. Com Aris Servetalis e Sofia Georgovassili. Drama / Comédia, Grécia / Eslovênia / Polônia, 2021, 91 minutos.
A premissa de Fruto da Memória (Mila) - que está disponível para aluguel na Amazon e na Apple TV - é curiosa e atual: em meio a uma espécie de pandemia mundial que causa amnésia repentina na população, uma empresa de tecnologia desenvolve um sistema que visa a construir novas memórias em seus pacientes. Nesse contexto acompanhamos o taciturno Aris (Aris Servetalis), um homem de meia idade que se locomove pela cidade de forma silenciosa, se alimentando persistentemente de maçãs. Enquanto o mundo padece desse novo mal, que faz com que as pessoas abandonem seus carros em meio a rua sem saber exatamente o que estão fazendo, Aris vai mantendo uma rotina melancólica, com o espectador tendo poucas informações a seu respeito. Um certo dia, em uma viagem de ônibus, Aris vai até o final da linha sendo despertado de um sono profundo pelo motorista: ele não lembra mais de nada. Não há um parente que lhe reivindique. Um irmão, filhos, os pais.
O protagonista resolve então ir até a clínica com a intenção de entrar no programa de recuperação. No local, ele recebe instruções em fitas cassete - aliás, dado o desenho de produção e a ausência de equipamentos mais modernos, a trama parece se situar nos anos 80 -, estimulando-o para atividades prosaicas como andar de bicicleta, ir ao cinema, a algum bar ou festa, namorar, transar. A comunicação é bastante básica, devendo o sujeito registrar (por meio de fotografias feitas em uma polaroid) todas as metas que ele alcança na busca de ser esse "novo sujeito". A estranheza é meio geral, tudo parece meio robótico, frio. Tal qual a existência em tempos atuais - onde a formação de novas memórias se dá por meio de selfies egocêntricas de tudo e de todos, mesmo das ações mais estúpidas -, a vida com esse componente digital parece meio desprovida de um significado mais profundo. De um sentido qualquer.
E talvez aí esteja a chave para que compreendamos o que pretende o diretor Christos Nikou com essa obra: ao olhar para o passado, ele analisa o vazio do presente, a mesquinharia dos atos, dos gestos. É claro que não é assim tão simples, já que claramente há mais camadas por baixo: Aris guarda alguns segredos, entre eles o que envolve uma dolorosa perda. E ter de lidar com o luto e a necessidade de desapegar e de seguir em frente, como se nada houvesse acontecido, pode ter a ver com a forma como a narrativa é conduzida. E até mesmo de como o protagonista se comporta. Há uma cena bastante expositiva em que Aris está comprando as suas maçãs, quando é alertado pelo dono do mercado de que "é muito bom comer maçãs porque elas fazem bem a memória". Imediatamente o homem substitui as maçãs por laranjas, afinal, quais memórias ele efetivamente quer guardar? Ou suprimir? O que deve ficar para trás ou ressurgir?
É um universo complexo, que emula desde o cinema alegórico de Charlie Kaufman, até clássicos sobre "novos mundos" como O Show de Truman (1998). Tendo recebido ótimas críticas no Festival de Veneza, o filme foi o selecionado da Grécia na mais recente edição do Oscar - e, ainda que não tenha chegado entre os finalistas, fez relativo burburinho na temporada. Ainda assim, talvez não seja uma obra para todos os paladares, já que se trata de uma experiência cheia de sutilezas, de ambiguidades e de informações que estão por baixo da fachada de normalidade que parece evocar de Aris. Em entrevistas de divulgação Nikou mencionou a facilidade com que as pessoas esquecem facilmente as coisas que lhes causam dor. "E isso que somos apenas uma coleção de memórias, de coisas que não esquecemos". Freud teria dito que a "cura não vem do esquecer. Vem do lembrar sem sentir dor". A frase, de alguma forma, resume aquilo que acompanhamos em Fruto da Memória. E o simples pensar sobre tudo isso, faz a jornada valer a pena.
Nota: 8,5
Pitaquinho Musical - Tim Bernardes (Mil Coisas Invisíveis)
Vamos combinar que, se depender da reação dos fãs do trabalho do Tim Bernardes, é possível afirmar que o compositor talvez tenha inaugurado algum tipo de subvertente musical, talvez uma espécie de "indie filosófico", que mescla sofrimento, afeto e otimismo em iguais medidas. Mas esse combo de sensações é muito menos turbulento e muito mais resignado - onde se reconhecem as dores, os lutos e as aflições da alma, mas também se reaprende a amadurecer, a prosseguir, a encontrar motivo para algum tipo de contemplação diante do mundo. Nem que seja uma reação a algo mais prosaico. Nesse sentido, a mescla de melodias homogêneas, econômicas e pontualmente ensolaradas não gerariam nenhum tipo de estranhamento se este segundo trabalho solo do vocalista d'O Terno se chamasse Recomeçar 2 - e não Mil Coisas Invisíveis.
Em entrevista ao site Papel Pop, o artista afirmou que desde <atrás/além> - último projeto com O Terno - se permitiu "fazer algumas canções com letras mais longas, em que eu ia desabafando e discorrendo sobre coisas de maneira meio ensaística, meio poética, meio objetiva, meio abstrata". Assim, Mil Coisas Invisíveis se apresenta como mais um daqueles trabalhos que requerem uma apreciação mais calma, onde se possa assimilar detalhes, encaixes, referências e orquestrações que se desdobram entre a economia e a expansão, a verborragia e a sutileza. Um bom exemplo desse expediente pode ser observado na graciosa e primaveril A Balada de Tim Bernardes, que alterna versos sofisticados (Quanto mais o tempo passa / Mais eu acho graça nessa enganação / Chamada virar adulto / O tempo é todo junto, sem separação), com um refrão amplamente pegajoso. Mas há mais, muito mais. Basta explorar.