segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Novidades em Streaming - Inverno em Sokcho (Hiver a Sokcho)

De: Koya Kamura. Com Bella Kim, Roschdy Zem, Ryu Tae-Ho e Park Mi-Hyun. Drama, França, 2024, 104 minutos.

Vamos combinar que a trama do estrangeiro que visita um outro País e se encanta pela sua cultura, gastronomia, arquitetura, história e gente - em muitos casos até estabelecendo laços sólidos no local -, é meio que um lugar comum. Um clichê. Ainda mais em obras literárias ou filmes românticos. Afinal, firmar raízes em outra nação - o que abre possibilidades para novas amizades e amores -, talvez seja uma das grandes alegorias para os recomeços. Onde o passado fica para trás em prol de um futuro muitas vezes idealizado (mas que na tela sempre parece perfeito). Só que nem sempre a vida é tão óbvia como muitas vezes é no cinema - por mais paradoxal que isso seja -, e é por isso que é tão interessante o arco narrativo visto no tocante Inverno em Sokcho (Hiver a Sokcho), produção inspirada em livro da autora Elisa Shua Dusapin, que estreou recentemente na plataforma Mubi.

Aliás, o filme já começa com uma série de paisagens geladas e enevoadas que, somadas à trilha de notas tristes, já identifica aquele espaço como um local isolado, dotado de uma estética em que a melancolia geral prevalece. É nesse contexto - o da pequena Sokcho do título, uma cidadezinha pesqueira da Coreia do Sul, quase no limite coa vizinha Coreia do Norte -, que vive a jovem Sooha (Bela Kim), uma funcionária de uma pousada que tem a sua rotina alterada pela chegada do misterioso escritor Yan Kerrand (Roschdy Zem), que ocupará um dos quartos justamente nesse meio de temporada, em que a quantidade de turistas do lugar reduz drasticamente. Yan parece estar ali por certo interesse que tem a ver com seu trabalho. Talvez esteja buscando inspiração para um novo romance. "Gosto de ir a lugares movimentados, mas quando estão vazios", comenta ele em uma das caminhadas ao lado de Sooha, que funcionará como uma guia improvisada do local.

 


A protagonista inicialmente estranha certos comportamentos do estrangeiro. Ele não parece tão encantado assim com a culinária local, como deveria ser o caso - em certa altura dá preferência para um pacote de Cheetos do que para uma saborosa sopa de rabanete branco. Pior, ele parece sempre disposto a recusar qualquer tentativa de inclusão nos hábitos do pequeno povoado - o que também tem a ver com as refeições nunca aceitas (ele prefere ir a um restaurante genérico). Sooha considera tudo um tanto enigmático, ainda que nunca enfrente uma barreira linguística, já que tem o francês como segunda língua. Seu pai, que ela nunca chegou a conhecer, era de Paris - e sua mãe (Park Mi-Hyun) não parece muito disposta a contar a história real a respeito do sujeito. E não deixa de ser curioso perceber como, quanto mais Yan parece distante e apenas conectado com seu trabalho (sempre recluso em seu cubículo), mais Sooha parecerá encantada. Talvez até apaixonada. Por um homem que, vejam bem, tem idade para ser seu pai.

Aproveitando a narrativa para uma série de outros comentários sociais - os mais aprofundados envolvendo o culto à imagem e à necessidade de, nos tempos atuais, as mulheres recorrerem a procedimentos estéticos que quase nunca precisam -, a obra de Koya Komura ainda utiliza uma série de animações tão oníricas quanto transcendentais, como forma de reforçar as suas ideias. Nesse sentido não deixa de ser comovente o instante em que o sexo é "desenhado" como uma profusão carnal de traço sofisticado, capaz de ampliar a sensação de busca por algo que talvez nunca seja alcançado (por mais bonito e interessante que seja o namorado de Sooha, um jovem modelo). Sim, há uma fantasia ali que talvez seja quase óbvia sobre a idealização de um amor que jamais se concretiza, o que não reduz a surpresa do ato final quando Yan é franco de uma forma quase dolorosa demais. Isso não é um filme, afinal. Quer dizer, até é. Mas não do jeito que estamos acostumados.

Nota: 8,0 

 

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