De: Tracie Laymon. Com Barbie Ferreira, John Leguizamo, French Stewart e Rachel Bay Jones. Drama / Comédia, EUA, 2024, 101 minutos.
Vamos combinar que filmes sobre amizades inusitadas não chegam a ser uma novidade. Muitas vezes esses encontros inesperados envolvem pessoas desajustadas ou, em alguma medida, a margem da sociedade - que buscam uma forma ou de aplacar a solidão ou de amenizar algum tipo de tristeza que emerge de um contexto de rejeição. É assim em obras distintas, como o clássico cult Ensina-Me a Viver (1971), o incensado Encontros e Desencontros (2004) e a sombria animação Mary e Max: Uma Amizade Diferente (2009). Todos com pessoas em conflitos internos ou incapazes de lidar com a complexidade do mundo. Já no carismático Um Pai Para Lily (Bob Trevino Likes It), temos a tradicional história de pai que abandona a filha - ao menos do ponto de vista emocional -, o que faz com que ela reaja da forma que qualquer pessoas de vinte e poucos anos faria: adicionando seu pai no Face.
Sim, esse resumo é meio bobinho, mas na trama inspirada em fatos reais e vivida pela diretora Tracie Laymon, o que temos é mais ou menos isso. No começo do filme Lily Trevino (Barbie Ferreira, de Euphoria) é apenas a jovem chorosa que, diante de uma frustração amorosa, tenta encontrar algum consolo no seu pai, o narcisista Bob Trevino (French Stewart). Incapaz de escutar os desabafos de sua filha, o sujeito parece apenas interessado no Tinder - e em alguma sessentona de boa aparência que possa agradá-lo. Só que quando um encontro sai errado justamente pela franqueza de Lily, o pai decide romper relações com a garota. De forma inusitada, a protagonista abre o Face e digita o nome da figura paterna. Encontra aquele que ela achava ser ele. Um Bob Trevino sem foto, sem muitas informações. Ela o adiciona. E começa a conversar, não demorando pra perceber que aquele era um homônimo de seu pai.
E, bom, não é preciso ser muito atento pra sacar que esse novo Bob Trevino (vivido por um John Leguizamo mais distante do estereótipo do latino violento e imprevisível que aparece em produções como O Pagamento Final, de 1993) será o completo oposto de seu pai na "vida real". Acolhedor, curtirá as postagens da garota, responderá não apenas suas dúvidas no webmessenger e lhe auxiliará em tomadas de decisão e outras coisas relacionadas a sua vida (como consertar um vaso sanitário). Em resumo, aquilo que um pai poderia muito bem fazer em uma relação saudável com sua filha: jogar basquete, levá-la para passear, para jantar, pagando as contas, animando-a e dando um novo brilho para a sua existência melancólica de empregada de uma loja de conveniência sem muitas perspectivas. Recheada por um sem fim de sequências comoventes, esse é aquele famoso projeto do quentinho no coração - sentimento ampliado no instante em que Bob e Lily vão a um pet shop, como forma de superar um dos tantos traumas.
Claro, fãs de cinema mais experientes talvez torçam um pouco o nariz para um ou outro momento mais forçado ou exageradamente açucarado do ponto de vista emocional, com a carga se ampliando no terço final, especialmente após a decisiva entrada em cena de Jeanie (Rachel Bay Jones), que interpreta a esposa do novo amigo de Lily - uma artista plástica que trabalha com colagens e outras técnicas do tipo. Jeanie e Bob também carregam suas dores - como quando revelam terem perdido um filho nascido com deficiência. Tudo é costurado de forma leve, sóbria, com as interpretações cheias de simpatia sendo o destaque. Barbie tem aquela risada agradabilíssima, que dá gosto de ouvir, mas não tem nenhuma dificuldade em levar o espectador às lágrimas, nas sequências mais pesadas. Já Leguizamo parece se divertir em um papel menos padrão. Às vezes a gente só quer um afago daqueles que gostamos. E esse filme entrega isso na medida certa. Não deixem de ver com o lenço na mão.
Nota: 7,5
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