De: Ilker Çatak. Com Leonie Benesch, Eva Lubau, Michael Klammer e Leonard Sttetnisch. Drama, Alemanha, 2023, 98 minutos.
Em uma das primeiras cenas de A Sala dos Professores (Das Lehrerzimmer), dois alunos da sétima série são interrogados por dois professores da escola em que estudam, a respeito de pequenos furtos que andam estão ocorrendo no educandário. Incapazes de obter uma resposta satisfatória diante da negativa dos pequenos, os docentes instigam os estudantes a apontarem em uma lista de nomes, qual é aquele que, eles acreditam, possa estar envolvido no caso. Essa ocorrência aparentemente corriqueira é acompanhada por Carla (a ótima Leonie Benesch), que está exasperada. Como pode, afinal, duas pessoas mais velhas coagirem dois adolescentes a simplesmente dedurarem um colega? E, pior: sem nenhuma prova? O olhar de Carla é de surpresa. Ela indica que eles não precisam fazer aquilo. Podem ficar em silêncio se preferirem. Mas, acuados, eles fazem. E a culpa recai justamente em um colega do Oriente Médio. Um convite à xenofobia. O que piora aquilo que já não era muito bom.
Carla não parece ser uma má pessoa. Quer dizer, não é que ela seja incorruptível ou moralmente impecável. Mas ela tenta estabelecer algum tipo de ética na relação com os seus alunos - o que faz com que ela permaneça ao lado deles, quando a investigação envolvendo roubos de pequenas quantias de dinheiro ou mesmo de objetos e de materiais escolares, tem início. Ninguém sabe quem está por trás daquilo. Pode ser um estudante? Pode. Mas também pode ser um funcionário ou um outro professor. Só que em tempos de redes sociais, de instantaneidade, de ódio disseminado e de política de cancelamento - todos nós poderemos ser os próximos, afinal -, a protagonista falhará justamente ao tentar auxiliar a escola na investigação. Quando ela posiciona uma câmera escondida junto a sua jaqueta, por estar desconfiada de uma fuuncionária, ela percebe uma mão que invade o bolso da peça para pegar a sua carteira. As evidências sobre o autor parecem claras. Mas dá pra sair incriminando assim, sem mais nem menos? Sem alguma prova mais robusta?
Pior do que isso, a professora será acusada de invasão de privacidade, já que faz captura com a câmera do notebook sem o conhecimento dos demais, justamente dentro da sagrada sala dos professores. O que desencadeará uma série de eventos que escalarão para uma sequência de violências em que, aparentemente, ninguém mais se entenderá. Primeiro a suposta culpada pelos roubos será afastada. Só que esse fato também respingará no filho da suspeita, o pequeno Oskar (Leonard Sttenisch), um jovem promissor que é fã de matemática, meio protegido de Carla, mas que ficará perturbado com o desligamento da mãe. E como se tudo não pudesse se tornar ainda mais atordoante, ainda haverá as reuniões com os pais, os grupos de whats, as desconfianças de parte a parte. Carla quis fazer algo que, em sua imaginação, seria para o bem. Mas quando um sistema parece já estar todo corrompido em sua raiz, não haverá mais solução. Por mais que se tente.
Em alguma medida, esse é um filme sufocante que se utiliza justamente das paredes exíguas e dos ambientes permanentemente fechados de uma escola, para formar o conjunto ideal de uma alegoria sobre violências cotidianas que escalam sem muito espaço para retorno. Em certa altura os alunos convocam Carla para uma entrevista ao fanzine da escola. E a gente já sabe que tudo sairá de uma forma torta. Há nos tempos atuais uma pré disposição para o ódio, para a intolerância, para a incapacidade de entender o outro. De ouvir e ser ouvido. Em certo ponto todos gritam juntos, ao mesmo tempo, na sala dos professores, numa balbúrdia desconexa que é a metáfora perfeita para as fraturas vividas na atualidade. É um microcosmo que serve como um olhar para o todo. É tudo muito seco - da fotografia aos cenários, passando pela trilha sonora de notas inquietantes. Até pode parecer um filme em que não ocorre muito. Mas há algo no seu cerne que fala muito sobre a hostilidade do mundo. Sobre tormentas e questões éticas complexas. E esse é um grande mérito.
Nota: 8,5
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