quinta-feira, 2 de março de 2023

Cinema - A Baleia (The Whale)

De: Darren Aronofsky. Com Brendan Fraser, Hong Chau, Sadie Sink e Samantha Morton. Drama, EUA, 2022, 117 minutos.

Pobre coitado desse protagonista de A Baleia (The Whale). Afinal de contas a culpa católica para Charlie (Brendan Fraser) parece ser tanta que a única forma de encontrar algum tipo de redenção talvez seja pagando com a própria vida. Ou ao menos esse parece ser um dos subtextos dessa alegoria meio torta proposta por Darren Aronofsky que, desde Cisne Negro (2010) não acerta a mão. Baseada em uma peça de teatro de Samuel D. Hunter, a trama acompanha um recluso professor de inglês com obesidade mórbida que se esforça para tentar se aproximar de Ellie (Sadie Sink), a sua única filha adolescente. O que envolve reservar à jovem - que não consegue esconder a repulsa que sente pelo próprio pai -, todo o dinheiro que ele guardou (cerca de US$ 120 mil). Aliás, dinheiro que poderia ser aplicado em uma série de tratamentos que provavelmente prolongariam a vida do sujeito - que sofre de uma severa condição cardíaca.

Só que o fato é que Charlie tem uma "mancha" em seu passado que envolve o abandono da família quando Ellie tinha apenas oito anos, para que ele pudesse viver um relacionamento com um de seus alunos. Um tipo de evento que, em cidades pequenas, pode ser ainda mais traumático - ainda mais quando o componente religioso parece estar de vigília a cada esquina. Ellie garante que a ojeriza ao pai nada tem a ver com a sua aparência. E confesso que lá pela décima vez em que ela verbaliza o seu ódio meio que dá uma cansada. Por que não podemos confundir empatia com pena. E Aronofsky parece forçar tanto a barra, pesar tanto a mão para que a gente goste daquele obeso de olhos permanentemente tristes - que sequer liga a webcam nas lives com alunos, tamanha é a vergonha -, que chega a dar um pouco de vergonha alheia ver ele pedindo desculpas tantas vezes para Liz (Hong Chau), a enfermeira que é sua amiga. É quase alguém implorando para ser amado.



Da mesma forma, o seu comportamento aparentemente autodestrutivo - sempre se empanturrando de pizzas, de snacks ultraprocessados e de gordurosos sanduíches de almôndegas -, não parece combinar com a mesma pessoa que vai para o Google pesquisar o que significa uma pressão arterial de 238 x 134. Ou mesmo a insuficiência cardíaca congestiva, que é o diagnóstico repassado por Liz. Tipo, por ser gay e por ter abandonado a família em prol de um grande amor que, mais tarde, ele viria a perder em um episódio de intolerância religiosa, agora fará com que ele engorde como se fosse aquele personagem de Seven: Os Setes Crimes Capitais (1995), que se mata de tanto comer? Tentar um tratamento ao mesmo tempo em que busca uma reaproximação com a ex-mulher (vivida por Samantha Morton) para tentar dar a melhor educação para a filha não seria um melhor caminho? Ou os Estados Unidos são tão cruéis em matéria de sistema e saúde que se internar num hospital significaria deixar uma dívida de milhões que só seria saldada lá pela quinta geração? Bom, talvez o sonho americano seja mesmo um pesadelo.

E outra, tudo bem que Charlie está poupando, mas, custaria comprar umas luminárias que dessem um pouco mais de vida praquele apartamento sorumbático? E por quê o Aronofsky tem que abrir o filme com uma cena em que o protagonista surge se masturbando de maneira sôfrega enquanto assiste a uma cena soft porn gay? A ideia não era fazer o público médio ter um mínimo de compaixão por aquele homem? E vocês não acham que uma cena assim já não pode gerar certo asco no "cidadão de bem" que é capaz de interpretar os LGBTs como pessoas depravadas e solitárias que só poderão encontrar a cura divina através da religião? Pra quê esse sensacionalismo todo? Aliás, nem falei do tal do Thomas (Ty Simpkins), o missionário cristão que não parece ter nada mais pra fazer na vida que não seja bater a porta de Charlie pra encher o saco. E que forçação de barra é essa na metáfora envolvendo a baleia Moby Dick, do livro?  Lá pelas tantas me dei conta que até a interpretação de Fraser eu estava achando meio caricatural. Exagerada. Não consegui sentir apego. Conexão com aqueles que assistia. Torcer por destinos melhores. E é uma pena ver a oportunidade de discutir temas tão relevantes sendo desperdiçada.

Nota: 3,0


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