segunda-feira, 9 de junho de 2025

Novidades em Streaming - Pecadores (Sinners)

De: Ryan Coogler. Com Michael B. Jordan, Hailee Steinfeld, Wunmi Mosaku e Delroy Lindo. Drama / Terror / Ação, EUA, 2025, 138 minutos.

"Se você seguir dançando com o diabo, um dia ele vai segui-lo até a sua casa". 

A maior alegoria do cinema recente sobre como se perpetua o racismo através dos tempos. Essa talvez seja uma das formas de encarar a experiência com o ótimo Pecadores (Sinners), que acaba de estrear para aluguel em diversas plataformas de streaming. Em linhas gerais essa é uma obra que trafega por vários gêneros - indo do drama à comédia, passando pelo terror e pela ação -, sem nunca perder de vista a discussão sobre como os tentáculos podres do preconceito se espalham, mesmo em tempos em que a sociedade, supostamente, avança. Em certa altura, ainda no começo do filme dirigido por Ryan Coogler - de Pantera Negra (2018) -, um redneck que responde por Hogwood (David Maldonado) garante aos irmãos gêmeos Smoke e Stack (Michael B. Jordan em papel duplo) que a "klan não existe mais". Uma forma de tranquilizar a dupla que está retornando ao seu Mississipi natal, interessada em instalar um bar de música, dança e bebidas para a comunidade afro do local (as famosas jukes, como era conhecidas).

O ano é 1932 e nunca fica exatamente claro o tipo de "negócio" que era tocado por Smoke e Stack em Chicago, mas o caso é que eles, que são dois veteranos da Primeira Guerra, voltaram de lá com uma grana boa depois de algumas temporadas trabalhando para a máfia. Claro que esse recomeço em um contexto de segregação racial e de preconceitos de todo o tipo não será fácil. Mais do que isso, muitas vezes a resistência parte dos próprios familiares, como no caso do primo Sammie (Miles Caton), um talentoso tocador de blues que precisa fugir de casa já que seu pai, o pastor Jebediah (Saul Williams) acredita que esse negócio de música é coisa do demo (aliás, qualquer semelhança com a forma que a Igreja Evangélica trata qualquer expressão cultural não será mera coincidência). Já os brancos? Bom, esses gostam muito do blues. "Só não gostam de quem o toca", comenta Smoke em tom jocoso. 

 


Sammie se junta a Smoke e a Stack para formar o time dos sonhos do boteco - o que envolve o pianista veterano Delta Slim (Delroy Lindo); a esposa de Smoke, Annie (Wunmi Mosaku) que, para além das habilidades em práticas de magia e rituais de povos originários e indígenas, é uma cozinheira de mão cheia; o casal chinês Grace (Li Jun Li) e Bo Chow (Yao) que fornecerá a matéria-prima e o trabalhador do campo Cornbread (Omar Miller), que é recrutado como segurança. Há ainda nesse conjunto a candidata a par romântico de Sammie, Pearline (Jayme Lawson), que também tem talento para o canto, e uma antiga namorada de Stack, a branquela Mary (Hailee Steifled) que, ao cabo, será o elo que aproximará supremacistas brancos e grupos de ódio que ainda se espalham pela região à esse espaço idílico, de música e de cultura transcendente, que parece ecoar por espaços e tempos, unindo passado, presente e futuro (aliás, uma das sequências que, seguramente, é uma das melhores do cinema nesse ano, não apenas por sua simbologia, mas pela riqueza de detalhes).

[SPOILERS A PARTIR DAQUI] Em linhas gerais esse é um filme que deixa muito claras as suas ideias, mas sem que necessariamente elas precisem ser esfregadas na cara do espectador. Claro que a conversão dos integrantes da KKK em vampiros que sugam o sangue, a alma e a existência de quem quer que seja, em nome de uma suposta domesticação que conduzirá todos ali e uma existência em família, em que todos são "iguais", independente de cor de pele, se torna a alegoria mais do que perfeita em tempos de apropriação cultural, de questionamento de políticas de cotas como ferramentas de inclusão, ou de práticas como o racismo reverso (ou recreativo), que desconsideram as desigualdades históricas. Musical, magnética, imprevisível, divertida, tensa, violenta e instigante essa é uma daquelas obras cheias de possibilidades de interpretação e que ainda faz um aceno para a literatura fantástica em seu terço final. Aqui não foi só hype. Trata-se de um filmaço!

Nota: 9,0 

 

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