terça-feira, 2 de abril de 2019

Cinema - O Retorno de Ben (Ben Is Back)

De: Peter Hedges. Com Julia Roberts, Lucas Hedges, Kathryn Newton e Courtney B. Vance. Drama, EUA, 2018, 102 minutos.

No centro da trama de O Retorno de Ben (Ben Is Back) está um dos maiores medos de pais/mães mundo afora: a de ver seu filho envolvido com drogas. Especialmente as drogas pesadas. E junto com elas todas as consequências do vício, que vão desde a destruição completa da saúde do usuário até o envolvimento com companhias que certamente não são as melhores. Ben (Lucas Hedges) é o filho que está em tratamento em uma clínica de desintoxicação e que resolve, as vésperas do Natal, fazer uma surpresa para a mãe Holly (Julia Roberts). A alegria absolutamente genuína em ver o filho, imediatamente contrasta com a preocupação. Não demora para que saibamos que Ben já passou por várias recaídas (tendo comprometido outras datas festivas), o que faz com que Holly esconda os medicamentos que possui em casa, que possam funcionar como gatilho, e faça ao filho um pedido quase suplicante: a de que ele não saia do seu raio de visão nas próximas 24 horas.

Bom, é óbvio que isso não vai dar certo e, assim como ocorre quando assistimos a um filme de suspense/terror, já sabemos de antemão que o "vilão grotesco" não tardará a aparecer, como se fosse uma emanação sobrenatural que surge para abalar as estruturas da família. Ben parece inicialmente disposto: está há 77 dias sem usar drogas e tem consciência de sua condição (a ponto de procurar uma "terapia de grupo improvisada", quando pensa que pode estar sofrendo com alguma tentação). Mas os "tentáculos" de um usuário de drogas são compridos e não demora para que traficantes descubram que Ben está na área. O resultado: o cachorro da família desaparece - ao melhor estilo daqueles avisos ameaçadores -, o que faz com que mãe e filho mergulhem em uma desesperada jornada de busca noite adentro, em uma espiral vertiginosamente mais perigosa conforme a película avança.


A propósito, o diretor Peter Hedges (o pai de Lucas) é hábil na construção da atmosfera do filme, imprimindo algum tipo de suspense até mesmo onde ele pareceria não existir. A cena em que Ben brinca "atrás" da cama com o cachorro, surgindo como se estivesse desmaiado, é um exemplo disso. O mesmo valendo para a sequência em que o jovem cria, de improviso, uma barulhenta canção ao lado dos irmãos mais novos. Há uma tensão permanente no ar: a gente sabe que algo está próximo de ebulir/explodir e ficamos só aguardando este momento acontecer. A exemplo do que ocorre com o pai vivido por Steve Carrel no ótimo Querido Menino, é algo que escapa completamente do controle de Holly. Ela tenta de tudo. Acredita piamente na recuperação do filho para apenas constatar, mais tarde, em uma das mais comoventes sequências, as suas falhas. Se é que ela falhou.

O filme não aponta dedos e o uso de drogas é um severo problema de saúde pública em qualquer parte do mundo: Ben surge como uma pessoa afável com os irmãos, faz piada com a mãe e reconhece o fato de que esta deve ficar longe dele pelo perigo que ele representa. Em um filme assim, a solução para a questão só seria possível com um final meio utópico, a moda daqueles que víamos nos anos 90. Mas não: as pequenas vitórias sempre serão celebradas, assim como a persistência em ficar "limpo". Mas até quando? Julia e Hedges emocionam - aliás, Julia está especialmente inspirada como essa mãe dedicada - nesse embate deles com eles mesmos. E o gosto amargo no final é o da certeza da dor que rodeia os familiares impossibilitados de salvar seu filho, diante de um algo tão devastador.

Nota: 8,0

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