terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Cinema - La La Land: Cantando Estações (La La Land)

De: Damien Chazelle. Com Ryan Gosling, Emma Stone, John Legend e J.K. Simmons. Comédia romântica / Musical, EUA, 2016, 128 minutos.

Assim como ocorria com o ótimo Whiplash - Em Busca da Perfeição (2014), La La Land - Cantando Estações (La La Land), nova obra de Damien Chazelle - e provável vencedor da estatueta máxima no próximo dia 26 de fevereiro, noite do Oscar - é um filme sobre pessoas em busca de sonhos, a custa de muito suor, sangue, lágrimas (e danças). Se na película de 2014 Miles Teller era um jovem baterista tentando ser o melhor de sua geração, aqui temos duas figuras distintas, mas com objetivos semelhantes: Ryan Gosling é o pianista de jazz Sebastian, que, apaixonado pelo vertente musical, sonha em abrir um bar na movimentada e modernosa Los Angeles, com o objetivo de fazer reviver nomes como Charlie Parker, Ella Fitzgerald e Miles Davis. Já Emma Stone vive Mia, atriz iniciante que deve conviver com a rotina cansativa de "nãos" em audições entendiantes, enquanto se vira nos trinta como atendente de um bar próximo a Hollywood.

Só que evidentemente há diferenças entre os filmes: enquanto em Whiplash o espectador se sentia tão oprimido e enclausurado quanto o protagonista, que trafegava com insegurança pelo conservatório enquanto era acossado pelo terrível professor Fletcher e seus modos ortodoxos (em papel que deu o Oscar a J.K. Simmons), em La La Land temos uma obra leve, de cenários multicoloridos, claramente nostálgica, excessivamente otimista e recheada de bons números musicais. Você certamente escutará por aí que o filme não é inovador, que presta uma "simples" homenagem aos musicais do século passado, que não é tudo isso que estão falando, que isso, que aquilo. Pois eu digo a vocês, sem medo de errar: ignorem qualquer pessoa que diga que não gostou de La La Land, pois há grande chance de ser pura presunção. As pessoas são livres para apreciar ou não esta ou aquela película: mas não há como resistir ao charme e a graça daquilo que foi construído por Chazelle.


A começar pelos minutos iniciais, em que vemos um plano-sequência (aparentemente) sem cortes, com dezenas de extras dançando e cantando, com coreografias perfeitas, em meio ao congestionamento que leva à capital mundial do cinema. É ali mesmo que seremos apresentados a Sebastian e Mia, que estão indo cada qual para as suas rotinas. O destino tratará de lhes aproximar, após desventuras na vida de ambos. Mia, por mais que se esforce, é ignorada pelos empresários e por gente do meio por não ser tão bonita - como ela imagina. Já Sebastian se dedica a um estilo considerado ultrapassado e que só é capaz de cativar senhores de mais de 90 anos de idade, como observará mais adiante o personagem vivido por John Legend. Enquanto encenam números musicais e trafegam pela "cidade proibida", Sebastian e Mia passam a ter um relacionamento. Aliás, um encontro que os fortalecerá, mesmo que isso possa não significar exatamente um "felizes para sempre". O que não deixa de ser mais um ponto positivo.

Escancarando com toda a vontade a intenção de mexer com o coração saudoso e nostálgico dos cinéfilos, Chazelle não se furta em realizar sequências que remetem a clássicos musicais, como O Picolino (1935) - um dos favoritos da casa, diga-se - ou Sinfonia em Paris (1951). Se Gosling e Stone não chegam a ser o Fred Astaire e a Ginger Rogers - aliás, o próprio Chazelle admitiu em entrevistas que a "insegurança" de ambos os personagens para o canto e a dança era proposital, como uma espécie de metáfora para as suas vidas complicadas - ambos compensam com charme, graciosidade e química, em cada uma das cenas em que aparecem juntos. E que nos fazem torcer muito por ambos. Stone, por sinal, dá um verdadeiro show de interpretação, com seus olhos grandes e angulosos e sorriso gigante. Ela parece sempre no limite da emoção, sendo capaz de entregar sentimentos complexos apenas com o olhar - e um eventual Oscar não será por acaso.


Adotando ainda a estrutura típica do realismo fantástico, tão vista em filmes do gênero - com os personagens cantando e dançando do nada, flutuando ou percorrendo cenários "irreais" - o roteiro, escrito pelo próprio diretor, ainda possui personalidade, mesmo nas cenas caricatas ou propositalmente descompromissadas. (e imagino ser impossível para qualquer cinéfilo ficar alheio ao som de Take On Me do A-ha, executada pela improvisada banda que, a certa altura do longa, tem Sebastian como um de seus integrantes) Sem querer parecer mais do que é, o caso é que La La Land talvez tenha ficado maior do que imaginavam os seus próprios realizadores - e as 14 indicações ao Oscar talvez comprovem essa tese. Mas inegavelmente é um filme gostoso de assistir, com figurinos riquíssimos e desenho de produção impecável, que ainda joga luz sobre um estilo cinematográfico hoje em dia esquecido mas que, talvez, em um mundo tão preconceituoso, intolerante e cheio de ódio, como o que vivemos hoje em dia, ainda tivesse muito a oferecer.

Nota: 9,5

Nenhum comentário:

Postar um comentário