terça-feira, 7 de junho de 2016

Pérolas do Netflix - Contracorrente (Contracorriente)

De: Javier Fuentes-Léon. Com Cristian Mercado, Tatiana Astengo e Manolo Cardona. Drama / Romance / Fantasia. Peru / Colômbia / França / Alemanha, 2009, 104 minutos.

A história do peruano Contracorrente (Contracorriente) não chega a ser exatamente inovadora, mas ela é contada de uma maneira tão leve e equilibrando, na mesma medida, o humor, o drama e algumas pitadas de nonsense (ou seria sobrenatural?), que fica praticamente impossível resistir! Diferentemente do que ocorre no magnífico O Segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang Lee, onde dois vaqueiros do oeste americano se apaixonam durante uma temporada de trabalho de pastoreamento de ovelhas, na fictícia cidade de Brokeback, aqui a trama se passa em uma colônia de pescadores, junto a uma bela praia peruana na costa do Pacífico. Em ambos os casos serão as dificuldades relacionadas a aceitação de um relacionamento homoafetivo, por uma comunidade conservadora e que convive com o permanente temor religioso, que pautarão as ações das películas.

No caso da obra de Javier Fuentes-Léon, somos apresentados a Miguel (Cristian Mercado), um pescador respeitado na localidade em que mora. Casado com Mariela (Tatiana Astengo), Miguel está prestes a ser pai pela primeira vez. Em meio a encontros com os amigos no bar para tomar uns tragos e jogar cartas, e a rotina como pescador, o rapaz mantém um relacionamento às escondidas com o artista plástico Santiago (Manolo Cardona), que está no local a trabalho, realizando séries fotográficas e pinturas variadas. A aproximação entre Miguel e Santiago certamente gerará suspeitas na comunidade, o que obrigará o primeiro a tomar a decisão de não ver mais o segundo. Assim, sem a possibilidade de ver o seu amor correspondido, Santiago decide abandonar o local, saindo em alto-mar.



É nesse momento que a história sofrerá uma interessante reviravolta, com a morte de Santiago após um acidente marítimo. Só que o problema é que a sua alma ficará vagando e retornará a praia, como se estivesse "presa", ocasião em que apenas Miguel poderá vê-la. Passado o baque do "reencontro" com o ex-amante, será a hora de Miguel retornar para o alto-mar, com o objetivo de resgatar o corpo de Santiago, única forma de dar a ele um enterro digno, retirando-o também desse limbo. Mas e se ele começar a gostar da situação de ter a pessoa amada próxima de si, sem que os outros o vejam? São estes arcos dramáticos, em muitos casos simples, as vezes quase ingênuos - ainda que com algumas cenas quentes -, que conduzirão a trama, em uma jornada de autodescoberta, enfrentamento de difculdades e de tomadas de decisões para todos os personagens - especialmente o protagonista.

Ver um filme peruano - a obra teve apoio da Colômbia, da França e da Alemanha -, cuja produção para o grande público e para o mercado externo é ainda incipiente, tratando de maneira tão natural de temas como homossexualismo (ou bissexualidade), é algo não apenas comovente, mas louvável. E ainda por cima com toques de fantasia! É claro que, aqui e ali, a película ainda peca em uma ou outra piada preconceituosa ou clichê do gênero - como na sequência em que vemos Mariela com a intenção de tentar uma espécie de "cura gay" (Feliciano aprovaria) para o marido, forçando-o a assistir futebol (esporte de "macho", não é?). Ainda assim, com interpretações absolutamente naturalistas de todo o elenco de atores, esse pequeno achado é uma verdadeira Pérola escondida no Netflix, que merece ser descoberta. Um filme, por sinal, adorado pelo público, que lhe concedeu o prêmio da audiência no Festival de Sundance de 2010, lhe garantindo, ainda, mais de quatro estrelas na já citada plataforma de streaming. Além de um mais do que honroso 7,8 no IMDB. Vale a pena conferir!

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