terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Especiais Oscar: Charlotte Rampling

Não fosse a atuação tocante de Charlotte Rampling, percorrida por meio de gestos e olhares capazes de dizer MUITO, e talvez a obra 45 Anos (45 Years) passasse despercebida do grande público, sendo relegada posteriormente a condição de "mais um drama europeu como qualquer outro". Mas a sua entrega ao papel de uma mulher prestes a completar 45 anos de casada com o marido Geoff (Tom Courtenay), é ao mesmo tempo discreta e potente, sugestiva e eficaz. É daquelas interpretações que realmente fazem a diferença - e que talvez expliquem a única nominação ao Oscar - na categoria Atriz - da película do britânico Andrew Haigh, que tem no currículo os alternativos Weekend (2012) e Looking (2014). Sim, 45 Anos não é daqueles filmes inesquecíveis. Mas é uma obra de momentos. E de reflexões, que acabam envolvendo o espectador justamente por fazê-lo pensar sobre uma situação que é tão natural a qualquer pessoa: o envelhecimento e como evoluem em paralelo as relações afetivas.

Poucos dias antes da festa que marcará a importante data, Geoff recebe uma carta com uma impactante notícia que abalará a rotina já um tanto fastidiosa e rotineira de ambos: o corpo de sua primeira namorada, e que foi seu grande amor da juventude, foi encontrado congelado no meio dos Alpes Suíços. O que desencadeará no sujeito um sério abalo emocional, trazendo de volta as memórias de um passado agora já distante, mas que retorna vívido, luminoso, como a época em que viveu aquela marcante paixão. É nesse contexto que a personagem de Charlotte, de nome Kate Mercer, ampliará a sua importância na película, assim como também se tornarão maiores as suas dúvidas e o seu sofrimento em relação aos sentimentos do marido, que agora vive uma espécie de embriaguez quanto ao que ocorreu anteriormente.


Não chega a ser exatamente uma novidade a capacidade de a atriz britânica - que acaba de completar 70 anos, no último dia 05 de fevereiro - de elevar a qualidade dos filmes que participa a um outro patamar, apenas com a sua inebriante e classuda presença. Especialmente em sua carreira mais recente. Talvez a pequena pérola Swimming Pool - A Beira da Piscina (2003) de François Ozon não tivesse a mesma potência, enquanto filme de suspense, não fosse ela que emprestasse seu talento a escritora de romances policiais que vive uma crise criativa. Aliás, o prolífico diretor francês já contou com a veterana em quatro ocasiões diferentes - além de Swimming Pool, Sob a Areia (2000), Angel (2007) e Jovem e Bela (2013) -, o que dá uma mostra do valor de suas interpretações.

O mesmo vale para o surpreendente Não Me Abandone Jamais (2010), em que ela vive a professora Miss Emily, um papel que, ainda que pequeno, é de fundamental importância e de alto grau de exigência para o contexto desse pequeno grande filme. E o que dizer da enigmática Anna da obra Eu, Anna (2013), em que ela interpreta uma mulher que é vista próxima a cena de um crime? A sua presença em obras importantes como Memórias (1980), O Veredicto (1982), Coração Satânico (1987) e Melancolia (2011), bem como a lista de diretores com quem já trabalhou - que vai de Woody Allen e Sidney Lumet, a Todd Solondz e Norman Jewison -, também servem como um belo portfólio da carreira de mais de 40 filmes da estrela europeia.


É muito provável que Charlotte não vença o Oscar em sua categoria - a favorita parece ser Brie Larson, por sua performance no tocante O Quarto de Jack. Ainda mais depois da polêmica em que se envolveu, quando afirmou (pra nossa tristeza) que o boicote ao Oscar era "racismo contra os brancos" e que "talvez nesse ano os atores negros não merecessem estar na lista final". O que não deixa de ser uma surpresa, já que ela, como integrante integrante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas deve ter assistido às viscerais interpretações de Samuel L. Jackson, em Os Oito Odiados, Idris Elba, por Beasts Of No Nation ou mesmo Michael B. Jordan, que bem poderia aparecer entre os candidatos a Melhor Ator - talvez no lugar de Bryan Cranston -, por sua performance no surpreendente Creed. Em nome dos bons serviços prestados à Sétima Arte a gente perdoa esse lapso, Charlotte. Mas que não se repita!




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