Vamos combinar que existem alguns discos que demoram pra ser absorvidos em sua totalidade. Que exigem mais de uma audição - em muitos casos cinco, seis, oito repetições. Até mais. E, ainda assim, a cada novo encontro será uma descoberta. É algo que vai meio que na contramão do consumo moderno de música, pautado por canções curtas que possam render dancinhas viralizantes no Tik Tok (e que, vá lá, daqui a algumas semanas talvez ninguém se lembre mais, quando a nova moda aparecer). E esse é justamente o caso de Ethel Cain que, não apenas lançou o seu segundo álbum apenas em 2025, como este novo registro, um panegírico intitulado Willoughby Tucker, I'll Always Love You, também ultrapassa os sessenta minutos de duração - como foi o caso do estranho e experimental Perverts, que deu as caras no comecinho de janeiro.
Funcionando como uma continuação de Preacher's Daughter (2022) - que esteve na nossa lista de melhores daquele ano -, Willoughby adota o mesmo estilo elegíaco, quase etéreo, ao contar uma história ficcional e trágica de amor, que percorre cada fragmento do álbum. Alternando momentos de versos profundamente emocionais e de grande vulnerabilidade, como em Nettles (O tempo passa mais devagar no piscar de luzes do hospital), com instantes de puro deleite instrumental, caso de Radio Towers, Cain entrega um registro flutuante, cru e vertiginoso sobre a sensação nauseante de se apaixonar e de se ver profundamente alterada por essa relação, independente do que ocorra. É um disco de vibrações sombrias que emergem de cordas e pianos atmosféricos. Mas também de estranho acolhimento em meio à dor.
Nota: 8,5
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