De: Alexandros Avranas. Com Grigoriy Dobrygin, Chulpan Khamatova, Miroslava Pashutina e Naomi Lamp. Drama, Grécia / Alemanha / Suécia / Estônia / França / Finlândia, 2025, 99 minutos.
Quem acompanha a carreira do diretor grego Alexandros Avranas sabe que seus filmes procuram examinar a barbárie e os horrores do mundo sempre de forma sutil, partindo de um microcosmo doméstico, com o grito abafado normalmente saindo pelas frestas. Ao espectador, assim como ocorre nas obras do compatriota Yorgos Lanthimos - de projetos estranhos e diversos como Dente Canino (2009), O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e Pobres Criaturas (2023) - cabe unir os pontos para compreender melhor aquilo que sempre parece estar uma camada abaixo. Foi assim com o impressionante Miss Violence (2013) - em que a violência sexual contra menores e o incesto emergem como parte da fratura de uma família traumatizada por um suicídio -, é assim também com Síndrome da Apatia (Quiet Life), produção que estreou na última semana na plataforma Reserva Imovision.
A trama é simples e, por mais excêntrica que pareça, é inspirada em eventos reais. Na história um casal de refugiados russos - Sergei (Grigoriy Dobrygin) e e Natalia (Chulpan Khamatova) -, que alega ter chegado à Suécia por medo de retaliações do Governo, tem o seu pedido de asilo político negado por falta de evidências dessa suposta violação. Após o ocorrido, uma das filhas, a jovem Katja (Miroslava Pashutina), simplesmente desmaia na rua. E, resumidamente, nunca mais acorda. Sendo diagnosticada, localmente, com a síndrome da resignação, uma espécie de curiosa condição psicológica que coloca crianças e adolescentes, geralmente filhos de imigrantes, em um estado letárgico, catatônico. Como se fosse um sono permanente, o que os impede de comer, andar ou falar - um quadro que pode durar semanas, meses ou anos e que seria uma resposta à situações de trauma e de adversidade.
O tema, diga-se de passagem já foi retratado no documentário em curta-metragem A Vida em Mim (2019), que chegou a ser indicado ao Oscar em sua categoria naquele ano. E que revela como centenas de crianças foram, misteriosamente, acometidas pela síndrome que segue tendo suas causas desconhecidas. Já na obra de Avranas, o que se vê é a luta do casal protagonista em meio a cubículos de hospital e outros ambientes opressores, não apenas para prosseguir após o ocorrido com Katja, mas também para obter o documento que ateste a autorização para residência. O que envolverá a participação da outra filha, a adolescente Alina (Naomi Lamp), que será encarregada de contar aos representantes da imigração a história de agressão que ela supostamente teria testemunhado contra o seu pai - um professor em seu País de origem , e que poderia contribuir para a obtenção do visto.
Sem muita brecha para outros mistérios - ainda que a produção se empenhe em conceder à narrativa a ideia geral de metáfora para traumas atuais que envolvem xenofobia, crises imigratórias, burocracias estatais, indiferença à dor do outro e outros temas políticos e sociais (tudo muito de passagem) -, o filme se esforça em evidenciar, talvez forçando um pouco a barra, o significado do silêncio frente às injustiças. Ainda que, como no caso dos repulsivos episódios recentes do nosso congresso brasileiro - com deputados de extrema direita colando esparadrapos em suas bocas, para denunciar uma ditadura existente somente na cabeça alucinada deles -, essas ideias soem totalmente deturpadas, é importante lembrar que não devemos nos calar, nem ficarmos "apáticos" frente ao sofrimento alheio. É aquela pulguinha que fica.
Nota: 7,0
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