De: Terry Gilliam. Com Bruce Willis, Madeleine Stowe, Brad Pitt e Christopher Plummer. Ficção Científica / Suspense, EUA, 1995, 129 minutos.
Existe uma cena de Os 12 Macacos (12 Monkeys) em que a psiquiatra Kathryn Railly (papel de Madeleine Stowe) detalha brevemente o Complexo de Cassandra. Em uma palestra e prestes a lançar um livro, a profissional explica a síndrome que envolve pessoas capazes de preverem com certa precisão desastres ou tragédias, em situações em que ninguém acredita nelas. O que permitiria diagnósticos de distúrbios psicológicos como esquizofrenia ou outros problemas de cunho emocional. Em alguma medida, a lenda grega de Cassandra - uma figura amaldiçoada para que suas previsões nunca fossem aceitas -, reaparece em diversos momentos do filme de Terry Gilliam, do clássico Brazil, O Filme (1985). Especialmente após o protagonista James Cole (Bruce Willis) ser enviado ao passado, com o objetivo de impedir um grupo subversivo de liberar um microrganismo mortal, que praticamente dizimaria a humanidade.
O ano é 2035 e cinco bilhões de pessoas morreram entre o final de 1996 e o começo de 1997, após o surgimento de um vírus fatal, que pode ter sido desenvolvido pelos próprios seres humanos. Os poucos sobreviventes resistem em uma vida desgraçada no subsolo, estando entre eles James, que está preso sabe-se lá por qual motivo, mas que tem uma chance para reduzir a sua pena e até conseguir um indulto: participar de uma espécie de programa experimental que envolve uma viagem no tempo, para o começo dos anos 90, na intenção de interceptar o coletivo conhecido como 12 Macacos, que estaria por trás da criação do vírus. A intenção com essa volta ao passado é obter as informações necessárias para uma possível cura. E, claro, que nem tudo será assim tão simples, já que James surge como uma figura atormentada por sonhos traumáticos, tendo ainda de lidar com o excêntrico Jeffrey Goines (Brad Pitt), um sujeito mentalmente instável, que parece em uma cruzada ambientalista e contra o capitalismo.
Como não poderia deixar de ser, James é tratado como uma espécie de doidinho de bairro do chapéu de alumínio, assim que chega, meio que por engano, ao ano de 1990. É em um sanatório, onde é atendido pela psiquiatra Kathryn, que ele conhece Jeffrey. À ela e a uma junta de médicos, ele tenta, em vão, explicar os riscos que a humanidade corre. Acaba preso em uma solitária, onde, após idas e vindas no tempo é enviado não apenas ao ano correto (no caso, 1996), mas também para o contexto da Primeira Guerra Mundial, o que conectará alguns pontos entre a doutora e seu paciente. Que se reaproximarão após o segundo "sequestrar" a primeira para tentar colocar em prática uma tentativa meio que desesperada de Cole de ir até a Filadélfia, para tentar encontrar o grupo revolucionário, que estaria empenhado em roubar material de laboratório do pai de Goines, o doutor Leland (Christopher Plummer), um respeitado virologista que estaria consolidando o plano macabro de aniquilação da humanidade.
Sim, parece tudo meio confuso e, na real, é. A ideia parece fazer com que o espectador fique, de fato, meio perdido, tanto é que, lá pelas tantas, com o retorno recorrente dos sonhos e tantas idades e vindas, o protagonista passa a achar que, de fato, está apenas alucinando. Hábil nessa construção noventista de uma trama de medo e paranoia, bem ao estilo das obras que se popularizariam na metade final daquela década - casos de Matrix (1999), Clube da Luta (1999) e outras -, Gilliam explora a incerteza frente ao novo milênio que se avizinha, com suas novidades tecnológicas, medos biológicos, guerras e temores políticos em uma trama de conspiração, estranheza e clandestinidade. O que é reforçado pela trilha sonora excentricamente circense, pela fotografia de paleta permanentemente acinzentada que contrasta com cores mais berrantes e pelos conflitos que antecipariam as crises climáticas tão faladas nos dias de hoje. Bomba atômica, superpopulação, poluição, guerras, pandemias. O mundo parecia outro em 1995. Menos nos seus temas centrais, como comprova essa experiência cheia de vigor, curiosa e melancólica, inspirada no clássico curta La Jetéé, de Chris Marker.
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