De: Kyle Edward Ball. Com Dali Rose Treteault e Lucas Paul. Terror / Fantasia, Canadá, 2023, 100 minutos.
Assistir ao estranho Skinamarink: Canção de Ninar (Skinamarink) me fez lembrar um episódio ocorrido há uns dez anos, quando fui convidado pela organização de um festival de curta-metragens local para ser jurado da competição técnica. A tarefa, verdade seja dita, era bastante ingrata: assistir a uns trezentos curtas, em um período de poucos meses, fazendo anotações e selecionando aqueles que integrariam a lista final de indicados. Só que uma categoria me chamou a atenção a ponto de quase me deprimir: a dos filmes experimentais. Aliás, fiquei surpreso em perceber o apreço de jovens diretores, muitos deles claramente estreantes, em realizar obras herméticas, impenetráveis, repletas de imagens e de sons com ausência de qualquer lógica, funcionando apenas como um exercício de estilo, eventualmente provocador. E, invariavelmente, chato. Por sinal, acho que foi a existência dos curtas experimentais que me fez desistir de participar, novamente, de qualquer outra experiência semelhante a essa.
E, Skinamarink é, assim como aqueles curta-metragens presunçosos, pretensiosos, pernósticos, um filme experimental (corram para as montanhas). Mais ou menos como uma longa instalação de 100 minutos, criada pelo Radiohead na época do Kid A - mas sem qualquer personalidade para bancar isso - o filme do diretor Kyle Edward Ball, que estreou nesta semana na Mubi, é uma sequência infinita de pequenos takes de uma casa na penumbra, colados um no outro, com fotografia granulada, sombria, como se emulando alguma coisa no estilo fita VHS dos anos 80. Não sei muito bem como funcionaram as campanhas de marketing que, a bem da verdade, acho que nem existiram frente ao orçamento minúsculo de apenas 15 mil dólares, mas o fato é que o projeto viralizou no Tik Tok e alcançou uma boa base de adeptos daquele cinema de horror estilo found footage, como A Bruxa de Blair (1999) e Atividade Paranormal (2007).
Só que diferentemente desses, aqui não acontece muita coisa. O horror deve estar mais nos efeitos psicológicos da escuridão? No medo infantil do abandono? Nas incertezas diante do desconhecido? Há algo ali que vai mais adiante, chegando no limite entre realidade e fantasia? Vida e morte? Sim, quando o filme acaba são muitas perguntas e poucas respostas e, em geral, quem acompanha o Picanha sabe que eu não tenho nenhum problema com obras menos palatáveis, desde que eu não tenha a impressão de ter sido feito de bobo durante quase duas horas. Será que foi essa a impressão? Será que é esse o cinema do futuro e eu não tô sabendo? E se for, por Deus, tô fora! O resumo que se encontra por aí fala em duas crianças de seis e quatro anos - seus nomes são Kaylee (Dali Rose Treteault) e Kevin (Lucas Paul) - que acordam no meio da madrugada e percebem que o pai desapareceu de casa sem explicação.
Só que, assim, "pai sumiu de casa sem muita explicação" é algo que o espectador vai supor, se não tiver muita informação sobre, depois de um bom tempo de takes de brinquedos lego espalhados, de tetos de casa com suas lâmpadas, de cantos da sala ostensivamente escuros, de corredores isolados, de conversas espaçadas e monossilábicas. Enquanto tentam descobrir o que ocorreu, as crianças percebem que coisas estranhas começam a acontecer no ambiente: as portas e janelas desaparecem, objetos como cadeiras e brinquedos surgem no teto ou em outros locais impossíveis e uma voz do além lhes dá instruções. A madrugada avança enquanto elas assistem desenhos animados antigos, com trilhas sonoras assustadoras e fantasiosas em igual medida. Há na internet e nos fóruns online uma série de tentativas de explicar o que se vê - e que vão de medos embotados de infância, passando por traumas domésticos, até chegar em sonhos nostálgicos.
Claro que nada vai ser definitivo e cada um é cada um. Quem nunca se assombrou ao acordar de madrugada e descobriu que aquela forma humana que está no quanto do quarto, na penumbra, é, na verdade uma pilha de roupas em cima de uma cadeira? Ou ouviu barulhos e estalidos na casa que parecem vindos de uma dimensão paralela? Parece que a ideia de Ball foi meio que essa: convidar os seguidores do seu canal de Youtube a relatarem pesadelos noturnos, na tentativa de recriar as imagens desses sonhos. Que essas imagens sejam tão escuras, tão opacas e tão assustadoramente NULAS é meio que decepcionante. A crítica e o público tem sido divisivos entre a aclamação total e a completa abominação, e anda até meio difícil de encontrar um meio termo. Talvez tenha havido boas intenções que colidem com tempos tão urgentes, tão frenéticos. Mas admito a vocês que esse foi um dos filmes recentes em que mais peguei o celular para scrollar aleatoriamente o Insta, enquanto o tempo passava. Não consegui fazer o mergulho necessário talvez? Vocês que me digam.
Nota: 2,5

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