quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Novidades em Streaming - Família (Familia)

De: Francesco Costabile. Com Barbara Ronchi, Francesco Gheghi, Francesco Di Leva e Marco Cicalese. Drama, Itália, 2025, 125 minutos.

Talvez uma das melhores histórias da atualidade sobre o quão difícil pode ser para uma mulher - para qualquer mulher -, escapar de um ciclo sem fim de violência doméstica. Sem rede de apoio. Com nenhuma garantia de segurança por parte do Estado. E à mercê de uma sociedade incapaz de fornecer o suporte necessário em casos de agressões não apenas físicas, mas psicológicas. Isso é o que assistimos no desalentador Família (Familia), drama dirigido por Francesco Costabile e que foi o enviado da Itália para o Oscar do ano que vem. Disponível na Reserva Imovision, a obra, inspirada em eventos reais que foram relatados em um livro escrito por Luigi Celeste, acompanha a via crúcis de Licia (Barbara Ronchi), que não apenas precisa lidar com o ex-marido criminoso que, recentemente, saiu da prisão - seu nome é Franco (Francesco Di Leva) -, como, mais adiante, ainda precisa confrontar o filho Gigi (Francesco Gheghi), que começa a se aproximar perigosamente de grupos supremacistas brancos, de extrema direita.

Claro que, aqui, temos uma história complexa de como famílias absolutamente disfuncionais podem formar o embrião que gerará adultos desajustados, como no caso de Gigi, que cresce à sombra de um pai que espanca a mãe à ponto de lhe quebrar os dentes da boca, sendo, na medida do possível, tranquilizado pelo irmão mais velho Alesso (Marco Cicalese). Nesse sentido, o filme de Costabile se converte em uma experiência complexa e de escolhas e soluções nunca óbvias. O mesmo valendo para os seus personagens, que nunca surgem em tela como figuras unidimensionais, capazes de ser apenas violentas ou bondosas em tempo integral. O próprio Franco, quando reaparece para os filhos em uma das sequências iniciais, enquanto esses batem bola despreocupadamente no pátio de casa, se empenha em compensar a ausência na vida dos meninos os levando ao parque de diversões e se comportando como um pai mais ou menos dentro do normal (a despeito de sua feição pouco amigável).

 


Sabendo que o ex violento está prestes a sair da prisão, Licia obtém uma medida protetiva, o que a faz trocar também as chaves da fechadura da casa - o que não impede a entrada de Franco, o que ele consegue com a ajuda dos próprios filhos, o que lhe oportunizará escancarar a sua face mais violenta. E, por mais que no aniversário de Gigi os integrantes se esforcem em tornar tudo "normal", um grupo de oficiais de justiça chega com uma ordem para que não apenas Franco fique distante dos filhos e da esposa. Mas a própria Licia seja apartada dos filhos, em um dos tantos instantes comoventes da produção. E que exemplificam a complexidade desses casos. Um salto temporal nos apresentará a um Gigi que já integra uma célula neonazista, ao passo que Alesso segue com uma vida de trabalho - o que não lhe retira a amargura. Os dois já voltaram a viver com a mãe em um modesto conjunto habitacional. Mas o drama ainda tá bem longe do fim. Especialmente após Gigi esfaquear um integrante de um grupo antifa em uma briga de rua e, pior de tudo, o pai reaparecer na vida de todos ali. O que sobrecarregará ainda mais o ambiente.

Em linhas gerais essa tragédia um tanto shakespereana, de pais e filhos em conflito, pode não ter muito espaço para redenção, já que não são poucos os instantes sombrios. Gigi até deixa de lado os ideais neonazis depois de ser preso - e de se apaixonar por Giulia (Tecla Insolia), que abomina essa vida dupla em que ele se encontra. Em certo ponto, Licia confronta o filho, ao mencionar que ele lhe "faz lembrar alguém", sem nem saber que Gigi tem encontrado Franco às escondidas, porque é justamente o pai quem primeiro vai lhe visitar na cadeia (após anos preso por assalto). As idas e vindas podem ser preenchidas por cenas cheias de simbolismos, como aquela em que Gigi e Giulia entram no túnel do terror de um parque, mas o que fica é a alternância e os altos e baixos em que, de novo, as personalidades nunca são limitadas. De qualquer forma e a despeito disso, muitas coisas se sobressaem aqui. Entre elas a dificuldade de expor às autoridades os casos de violência. Que se perpetuam de forma inevitável.

Nota: 8,0 

 

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