quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Novidades em Streaming - Quando Chega o Outono (Quand Vient L'automne)

De: François Ozon. Com Hélène Vincent, Ludivine Sagnier, Garlan Erlos e Pierre Lottin. Drama, França, 2024, 102 minutos.

Quem acompanha a carreira do diretor François Ozon sabe que ele não é apenas altamente prolífico - com uma produção média de quase um filme por ano -, mas também é muito versátil. O que o faz ser capaz de trafegar pelos mais variados estilos - indo da farsa policial no ótimo 8 Mulheres (2002), passando pelo suspense no, injustamente, pouco lembrado Swimming Pool: À Beira da Piscina (2003), até chegar ao drama familiar em Dentro da Casa (2012), à comédia em Potiche: Esposa Troféu (2010) e mesmo à fantasia no bobinho Ricky (2009). Em resumo, o realizador não se apega a nenhum gênero específico, o que faz com que cada uma de suas obras reserve boas surpresas, já que quase nunca temos certeza de para onde seremos levados. E, em alguma medida, é possível dizer que isso se repete no recente Quando o Outono Chega (Quand Vient L'automne), que está disponível para aluguel nas plataformas.

Aqui, temos um certo retorno ao drama familiar por excelência - mas, verdade seja dita, sem nunca apelar para o óbvio. Quando Valérie (Ludivine Sagnier) chega a casa de sua mãe Michelle (Hélène Vincent) com o filho Lucas (Garlan Erlos) à tiracolo pra uma visita, a gente meio que não entende muito a flagrante má vontade da mulher. Michelle, afinal, parece aquela avó afetuosa que, à beira dos 80 anos, aguarda com ansiedade pela visita do neto - a ponto de se maquiar e de caprichar na colheita de cogumelos selvagens, que servirão para a refeição em família. Cogumelos, que aliás, são obtidos em companhia da melhor amiga Marie-Claude (Josiane Balasko), sua parceira de caminhada pelas matas do entorno do pequeno vilarejo em que vivem. Ambas solitárias idosas, encontram algum tipo de amparo uma na outra. Marie-Claude sofre com a prisão do filho em circunstâncias nunca claras. Já Michelle preserva a solidão resiliente, com o afastamento da filha sendo motivado por eventos passados.

 

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Só que algo sai errado quando da janta envolvendo Valérie, Lucas e Michelle. Valérie passa mal após consumir os cogumelos do mato - que, muito provavelmente, eram de uma variedade tóxica. Lucas não come porque odeia a iguaria - como muitas crianças. E a idosa não comeu porque, enfim, estava sem fome. Valérie sobrevive, mas fica furiosa com a mãe - acredita que ela tenha, deliberadamente, tentado envenená-la. Mais do que isso, Lucas, que passaria o final de semana em companhia da avó para uma série de atividades, acaba apartado desta. Consumida pelo remorso e até pelo receio de estar ficando demente, Michelle encontra companhia da forma mais inusitada possível, quando o filho de Marie-Claude, Vincent (Pierre Lottin), é libertado da prisão. Com ela o convidando para trabalhar com ela, fazendo o manejo da horta, cuidando do jardim e realizando outras atividades como podas, colheitas, revolvimento do solo e outros. Parece o ideal, ao menos em partes. 

Bucólico e extremamente sutil - o que é reforçado pela fotografia terrosa e verdejante -, esse é aquele tipo de projeto agradável de se assistir, não porque haja grandes acontecimentos ou reviravoltas, mas pelas cargas emocionais contidas mas que se expandem, nos fazendo abrir pequenos sorrisos. [SPOILERZINHO] A revelação de que tanto Michelle quanto Marie-Claude eram garotas de programa no passado - aliás, tema pouquíssimo explorado pelas artes em geral -, funciona como câmara de eco para preconceitos, que se espalham pelas gerações seguintes. Lucas sofre com os valentões da escola que zombam da profissão pretérita de sua avó, ainda que Vincent esteja lá para dar uma enquadrada nos abobados dali. Em linhas gerais, após a ocorrência de uma tragédia, o filme ainda explora as possibilidades de novas configurações de famílias e de amizades, com pessoas fraturadas das mais variadas idades, se aproximando para tentar recolher os cacos. Somos muito mais do que o estereótipo, afinal.

Nota: 7,5 

  

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