quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Novidades em Streaming - A Hora do Mal (Weapons)

De: Zach Cregger. Com Julia Garner, Josh Brolin, Cary Christopher, Alden Ehrenreich e Amy Madigan. Suspense, EUA, 2025, 129 minutos.

Vamos combinar que, se fosse um curta ou um média metragem, e talvez A Hora do Mal (Weapons) pudesse ser um dos grandes filmes do ano. Especialmente na primeira parte, a obra do diretor Zach Cregger é hábil em construir a atmosfera necessária para deixar o espectador em estado permanente de alerta. Atento à ambientação e ao caráter alegórico da narrativa, que parecem contribuir para preencher a produção de significados. Quem já leu qualquer resenha sobre, já sabe que essa é uma experiência que não se esgota quando os créditos sobem, afinal, são muitas as possibilidades de interpretação. E isso é tão bom que, se Cregger tivesse optado por manter a coisa no campo mais do simbólico, o resultado provavelmente seria mais efetivo. Resumidamente: talvez não precisasse um "monstro" do ponto de vista concreto, ou material, se o mal pudesse ser entendido como outro. Maior. Intangível. Abstrato, mas que está no tecido da sociedade. Nas suas vísceras. Entranhado.

Dividido em capítulos com os nomes dos personagens que, em alguma medida, protagonizam cada excerto, o filme começa com o sensacional trecho sobre Justine (Julia Garner), a professora de Ensino Fundamental que precisa lidar com um caso que impacta toda a comunidade da pequena Maybrook, na Pensilvânia - e que envolve o sumiço, inexplicável, de dezessete crianças da terceira série que está sob sua responsabilidade meio que, assim, sem mais nem menos. Misteriosamente, às 2h17 da manhã, todos os pequenos levantam de suas camas, descem as escadas, saem porta afora correndo, com os braços retesados para trás, em direção à escuridão. Ao nada. Para nunca mais serem vistas. Estranhamente, apenas uma das crianças permanece: o introvertido Alex (o ótimo Cary Christopher), que não parece ter muitas informações. Ou mesmo que esteja disposto a falar qualquer coisa. 

 


A comunidade escolar exige uma imediata explicação. Não apenas da direção, mas também de Justine, da polícia, enfim, qualquer coisa que leve a alguma pista. Agindo como os pais desesperados do ótimo Os Suspeitos (2013), de Denis Villeneuve, o operário Archer Graff (Josh Brolin), o pai de uma das crianças desaparecidas, resolve iniciar por conta uma investigação - o que se desenrola no segundo ato, que recebe o nome do sujeito. Até esta parte o filme consegue preservar o clima instigante de tensão. Justine é acusada de negligência por parte dos pais - teria sido desligada de uma escola anterior em circunstâncias pouco claras, além de ter sido presa ao dirigir embriagada (o problema com álcool parece recorrente). Por não ser "flor que se cheire" alguns, como Archer, pensam que ela possa estar por trás do ocorrido com as crianças. Na ânsia por justiça, em uma sociedade punitivista, violenta (e armamentista) como a estadunidense, o barril de pólvora parece pronto a explodir. Com outros pequenos eventos contribuindo para essa escalada de tensão.

Parte fundamental da narrativa, a casa em que Alex vive surgirá envolta em mistério, com as janelas cobertas por jornais, a mobília suja e pais, excêntricos (pra dizer o mínimo) - isso sem contar uma outra parente que aparecerá mais adiante. E que meio que assustará geral. Aqui e ali as trucagens podem ser surpreendentes. Há outros personagens com boas histórias, como no caso do policial amigo de Justine - seu nome é Paul (Alden Ehrenreich) -, além de um drogadito de nome Anthony (Austin Abrams), que parece disposto a qualquer coisa pra manter seu vício. Só que, como afirmei, a partir da metade, a coisa desanda em uma busca pela simplificação. O que faz com que se deixe de lado a metáfora poderosa sobre violência, traumas, preconceitos, senso de justiça e luto, para uma aposta meio sem sentido em um componente estranhamente sobrenatural. Que quase vai no limite do lugar comum, do caricato e do preconceituoso. Tornando uma potente história exploratória que poderia ampliar as discussões sobre um sem fim de temas sociais atualmente em alta, em uma obra tola, que recorre ao mais óbvio dos chavões: o do monstrinho estranho que deve ser extirpado para que o final seja, minimamente, feliz. Decepcionante.

Nota: 6,0 


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