De: Amalia Ulman. Com Chloé Sevigny, Alex Wolff, Valeria Lois e Camila Del Campo. Comédia, Argentina / EUA / Reino Unido, 2025, 93 minutos.
Vamos combinar que Magic Farm consegue um feito raro: ser um filme nonsense sem nenhum tipo de apego à realidade. Sim, em linhas gerais o cinema excêntrico e que vai no limite do absurdo talvez não necessite de verossimilhança. Mas o caso é que acaba sendo totalmente incoerente assistir à uma equipe de filmagem tão ignorante acerca de seu próprio papel frente ao que pretendem retratar em vídeo. Ok, a ideia central talvez esteja justamente em evidenciar o quão alienado e despreparado é aquele coletivo - que acaba no interior da Argentina após uma confusão envolvendo o nome da cidade que eles procuram (San Cristóbal que, ao que tudo indica, se repete em todo e em qualquer País latino). Só que essa falta de organização travestida de preconceito colonialista vai escalando até o ponto da irritação, conforme a obra da diretora Amalia Ulman avança.
E preciso dizer que quando li a sinopse fiquei bastante animado com o que parecia ser uma produção que satirizava a exploração da mídia e esse ideal bastante contemporâneo da viralização a qualquer preço. Quando chegam à San Cristóbal, o grupo liderado por Edna (Chloé Sevigny), que realiza uma série sobre subculturas diferentonas ao redor do mundo, está atrás de um músico que se veste com orelhas de coelho e que responde pelo nome bastante sugestivo de Super Carlitos. Sim, isso mesmo. Só que, como dito, eles dão com os burros na água justamente por não terem se estabelecido no local correto. E pra não desperdiçar a pauta (ou algo do tipo) e as diárias já contratadas na improvisada pousada capitaneada por um carismático recepcionista (Guillermo Jacubowicz), eles resolvem percorrer o vilarejo atrás de alguma boa história que possa render pra série.
Tudo parece promissor quando a obra inicia, com um estilo de filmagem pouco óbvio do ponto de vista estético e com o uso de cores berrantes, que contrastam com a melancolia provinciana e letárgica dessa pequena comunidade rural argentina. Só que o poderia ser a deixa óbvia para uma série de comentários bem humorados sobre diferenças culturais entre nova iorquinos bem nascidos em contraste com interioranos raiz, logo apela para a obviedade galopante sobre o excesso de cachorros da região, a ausência de uma infraestrutura mais adequada para atender os caprichos daqueles sujeitos ou o uso de roupas excessivamente de grife em estradas de chão poeirentas. Edna está acompanhada de uma equipe de produtores estúpida e mesquinha (pra não dizer escrota), que bate cabeça, enquanto se aproxima de forma entortada dos habitantes locais - como no caso de Popa (Valeria Lois) e sua filha Manchi (Camila Del Campo), que deixa o produtor Jeff (Alex Wolff) caidinho de paixão (ao menos até a hora de eles irem para os "finalmentes").
Além de Jeff, a própria Amalia no papel de Elena funciona como a intérprete do grupo, mediando as conversas entre os nativos e a equipe, o que auxiliará na fabricação de um documentário forjado a respeito de um novo culto religioso, com pessoas que utilizam um adereço bastante peculiar sobre a cabeça. Que a pior equipe de produção do planeta não perceba onde verdadeiramente estava a pauta - os moradores da região sofrendo permanentemente com a pulverização de agrotóxicos, inclusive espalhados por aviões (o que resulta em pessoas com deformações, deficiências e outros problemas), é só a cereja do bolo desse ambiente de alienação que povoa as redes sociais na atualidade (com sua presunção torpe, falta de criatividade e ignorância sobre tudo que não está em volta do próprio umbigo). Essa acaba por ser a parte mais efetiva ao final. O que não salva a experiência do mero escapismo tolo e tedioso, que nunca aprofunda as suas questões.
Nota: 5,0
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