quarta-feira, 17 de abril de 2024

Pitaquinho Musical - English Teacher (This Could Be Texas)

Não são necessárias muitas audições de um disco como This Could Be Texas, o aguardado álbum de estreia dos britânicos do English Teacher, para que percebamos como se sobressai nele uma certa "poética do drama" - um tipo de estética que envolve desde vocais pungentes e meio sôfregos, passando pela repetição de versos como mantras e por letras sobre questões sociais, econômicas e políticas salpicadas de citações culturais, até chegar nas melodias que parecem nadar entre o pós-punk, a psicodelia e o dreampop. Sim, a gente admite que dá um certo cansaço saber que temos novamente a melhor banda de todos os tempos da última semana, mas o caso é que é difícil ficar alheio à canções tão especialmente brilhantes, como, por exemplo, You Blister My Paint. Nela tudo é tão perfeito, desde o vocal ao mesmo tempo etéreo e espacial de Lily Fontaine que vai ao encontro da melodia limpa e sofisticada, até chegar à letra enigmática e alegórica sobre a sensação de se sentir ofuscado por alguém que se ama.


 

Outros momentos são mais diretos, como no caso de The World's Biggest Paving Slab, que não faria feio no mesmo bloco musical noventista em que estivessem o Veruca Salt ou o Sleater Kinney, ou qualquer outra do movimento riot - ainda que a letra verse sobre "delírios de grandeza e inferioridade do ponto de vista das celebridades locais de uma cidade pequena". Como não poderia deixar de ser em projetos do tipo, instantes mais urgentes e de mais impacto, se alternam com canções mais minimalistas, que se valem de cordas, pianos e elementos eletrônicos discretos - caso da imperdível Mastermind Specialism, que parece trilha sonora de filme alternativo saído do Festival de Sundance, em que a protagonista se questiona a respeito de suas escolhas de vida (sexuais, religiosas, de trabalho). Canções sobre objetivos não alcançados (Not Everybody Gets to Go to Space), a respeito de estereótipos no mundo da música (R&B) e sobre conservadorismo e sensação de não pertencimento (Albert Road), surgem de forma bem costurada, coesa e com personalidade. Um dos grandes lançamentos do semestre.

Nota: 8,5


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