segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cine Baú - Aconteceu Naquela Noite

De: Frank Capra. Com Clark Gable, Claudete Colbert e Walter Conolly. Comédia romântica, EUA, 1934, 104 minutos.

Durante toda a década que se iniciou nos anos 30, os Estados Unidos - talvez com o objetivo de levar algum conforto aos angustiados corações dos norte-americanos, ainda abalados pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929 - foram pródigos em produzir bons filmes de humor. Fossem elas as impagáveis comédias dos irmãos Marx, casos de O Diabo a Quatro (1933) e Uma Noite na Ópera (1935), as sensíveis e divertidas obras mudas de Chaplin, como o Luzes da Cidade, lançado em 1931 ou Tempos Modernos (1936), ou mesmo os musicais que, se aproveitando da grande novidade do momento, no caso, a possibilidade do uso do som, divertiam plateias mundo afora, como ocorreu com Rua 42 (1933) ou mesmo o ótimo O Picolino (1935).

Não parece ter sido mera coincidência o fato de algumas das melhores comédias de Hollywood terem sido lançadas nessa época, uma vez que o empenho em elevar a moral do povo norte-americano com produções leves, parecia, de fato, ser a ordem do dia. Alguns diretores como Leo McCarey, Preston Sturges e Frank Capra se tornaram verdadeiros especialistas do estilo. E é desse último o inesquecível clássico Aconteceu Naquela Noite (It Happened One Night), primeiro filme da história a faturar as cinco principais estatuetas do Oscar - nas categorias Filme (Frank Capra e Harry Cohn), Diretor (Frank Capra), Roteiro (Robert Riskin), Ator (Clark Gable) e Atriz (Claudete Colbert) - algo que  mais tarde Um Estranho no Ninho e O Silêncio dos Inocentes repetiriam. E que se mantém até hoje como uma comédia romântica refrescante, inteligente, recheada de diálogos espertos e situações absurdamente divertidas.


Na trama, Claudete Colbert vive Ellie, uma patricinha sem papas na língua que foge da casa do pai que está tentando forjar um casamento com um homem que ela não ama. Por outro lado, Clark Gable é Peter, um jornalista fracassado, atrás de uma grande história que possa representar o seu retorno triunfal ao antigo periódico em que trabalhava. É no encontro e na posterior tentativa de fuga dos dois que essa pérola do cinema americano mostrará a sua força, envolvendo o espectador de maneira quase instantânea. Capra é mestre em fazer rir com as situações mais prosaicas, seja nas discussões acirradas entre os protagonistas - e aqui já se deve saudar o fato de não haver nessa disputa de gêneros necessariamente um "sexo frágil" - ou mesmo no uso das mais inusitadas cenas (a do "pedido de carona" é uma das melhores) e metáforas - e você nunca mais pensará nas "muralhas de Jericó" da mesma forma ao ver esse filme.

De maneira concomitante, todas as personagens da película parecem possuir uma certa diversidade de caráter. Algo salutar já que, ao mesmo tempo em que o pai da moça pode se mostrar um sujeito bondoso, o companheiro de viagem presente no banco ao lado pode mostrar o seu pior lado em uma situação de dificuldade, em uma parada necessária do ônibus. Colbert e Gable mostram uma química quase rara nos dias atuais, sendo absolutamente naturais as cenas em que eles fingem, de maneira quase farsesca, ser marido e mulher - tudo para que a situação de ambos não piore ainda mais. Também é notável o trabalho e o cuidado de Capra em relação a construção das cenas. Com um quê de A Princesa e o Plebeu - aliás, a trama é até parecida! - esse clássico se mantém até hoje entre os favoritos de qualquer cinéfilo, ocupando, desde 2007, a 46ª posição entre os 100 Melhores Filmes do American Film Institute (AFI).


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